quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O melhor presente de Natal

Estávamos em oito. O papo seguia embalado como em todas as tardes no horário do café em uma das mesas do refeitório da empresa. Para comer: coxinha, bolachas e pão na chapa. E de bebida tinha suco, água de coco e iogurte. Ocupávamos a última mesa do espaço, situada ao lado da estrutura transparente que nos permitia ver o tempo nublado lá fora naquela tarde de quarta-feira, mês de novembro. De repente, alguém diz. “Eu gostava do Pitfall”. E na ponta da mesa o colega responde tentanto imitar o som do joguinho do extinto video-game Atari. Os oito amigos riram alto e o rumo da conversa acabara de mudar. A partir daquele momento, começaríamos a relembrar dos fantásticos jogos do Atari e a evolução dos video-games.

Isso tudo me fez voltar ao Natal de 1987. Tinha 10 anos e a matemática quase me fez repetir de ano na quarta série da Escola Estadual Antonio Marques Figueira, em Suzano. Aqueles problemas de porcentagem não entravam na minha cabeça, mas, por outro lado, era um aluno disciplinado e ia bem em outras matérias. Fiquei de recuperação, estudei e passei. Foi a professora Marilene que deu a boa notícia aos meus pais. Sendo assim, eu ganharia um presente de Natal. Na verdade, ganharia de qualquer forma, eu acho.

Por volta das 19h do dia 24 de dezembro a casa já estava envolta em um clima de ceia. Cheiro de comida boa pairando (coisa de gordo). Meu irmão tinha 7 anos e a irmã 3. Lembro da minha mãe terminando de preparar o jantar na cozinha. A prima Amanda, que também tinha 10 anos, estava em casa e meu pai, provavelmente, dava um auxílio nos afazeres domésticos. 

As horas se seguiram e por volta das 20h30 chegava a informação de que meu pai foi visto pulando uma das janelas com um grande embrulho nas mãos. Ao que tudo indicava era o presente. Fontes ligadas ao meu pai disseram na ocasião que havia chances de ser um vídeo-game Atari. Neste caso, um presente compartilhado entre eu e meus irmãos. Fiquei muito feliz. Porém, a informação não era oficial.

Pouco tempo depois meu pai entrava pela porta da sala de nossa antiga residência na Rua Tiradentes, centro de Suzano, com a grande caixa na mão. As fontes estavam certas. Rasguei o embrulho como um pitbull feroz e lá estava o video-game Atari. Foi uma felicidade indescritível. Pulei, abracei meu pai e logo queria ver o aparelho funcionando.

Daí percebi que tudo se encaixava. Meu pai pulou a janela para não passar pela sala. Mas isso nem importava. Após a instalação do Atari, lá estava eu tentando controlar o carrinho do Enduro na tela da antiga TV Mitsubishi (a primeira colorida da minha casa, porém sem controle remoto). Foi um dos natais mais feliz da minha vida. Meu pai arrebentou no presente. Só perdeu para o presente do natal de 1986. Já falei sobre isso aqui. Veja. <<<<clique aqui>>>>

Primos e tios chegaram. Organizávamos filas para que todos jogassem. O aparelho não tinha hora para ser desligado naquele dia. E assim foi madrugada a dentro. A empolgação era qual seria o próximo cartucho (jogo) a ser comprado. O segundo que ganhei foi Frogger, presente do meu tio Jorge, dias depois. Aquele em que o sapinho tinha que atravessar avenidas para ganhar pontos. Pai, mais uma vez, obrigado pelo presente.

E o papo na mesa do refeitório da empresa naquela tarde de quarta-feira seguia animado. “Paguei meu PlayStation em várias parcelas”, disse o colega. A conversa ainda era sobre vídeo-game. “Os finais do Street Fighter eram estranhos, lembram?”, comentou o outro colega. E por aí foi: Master System com Alex Kid na memória, Neo Geo, Mortal Kombat e Sonic. Após um breve silêncio um dos colegas se levantou rapidamente para voltar ao trabalho. O intervalo para o café estava terminando. Eu deixei o local em segundo e logo depois todos voltaram para a redação da TV Diário. Faltavam pouco mais de uma hora para o Diário TV 2ª edição começar. 

2 comentários:

  1. É muito bom ler textos como esses!! Isso nos remete ao quanto o clima de natal era maravilhoso em nossa infância, um presente marcante, um prato de comida que nos lembra a época. No seu texto Douglas, eu viajei no tempo e imaginei a sua casa, a sua felicidade quando ganhou o presente. Parabéns pelo texto!! Abço... Léo

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