quarta-feira, 30 de abril de 2014

Portelão ao vivo

UMJs da Rede Globo. Foto: Google Imagens
Em 1994 soube o que era uma UMJ (Unidade Móvel de Jornalismo) quando vi, pela primeira vez, algumas no estacionamento do Ginásio Municipal Paulo Portela, o Portelão, em Suzano. Era um domingo e naquele dia o time de vôlei campeão da minha cidade entraria em quadra. Tinha 17 anos e sempre estava por lá. Atenção voltada para a partida: um olho no lance e o outro no movimento dos repórteres que cobriam o jogo. Foi nessa época que tive a certeza de que queria ser jornalista. Me imaginava, um dia, fazendo aquilo que os repórteres faziam no Portelão. E os jogos para mim eram um misto de emoção diante dos gritos que vinham das arquibancadas (Suzanoô, suzanoô...) e a satisfação em poder observar a imprensa ali, tão perto de mim.

Maurício no Portelão. Foto: Google Imagens
Naquela época o time de Suzano ostentava jogadores campeões olímpicos. Giovani, Marcelo Negrão e Maurício eram sempre vistos em agências bancárias e supermercados da cidade. Suzano era a Capital do Vôlei e palco de inúmeras atividades voltadas para a prática do esporte. Campinhos de futebol perdiam a força e davam lugar as quadras improvisadas na periferia. Era só vôlei que os mirins queriam jogar nas ruas e nas escolas.


Giovani em quadra pelo Suzano
Os jogos eram quase sempre transmitidos pela TV Bandeirantes. Boa parte deles nas tardes de domingo. Marco Antônio (já falecido) e o apresentador José Luiz Datena eram sempre escalados para narrar as partidas ao vivo. E na reportagem da Band lá estava Olivério Junior. Fora os antigos repórteres do Globo Esporte (Lívio Lamarca, Roberto Thomé e César Augusto). Certa vez fui entrevistado por Michael Keller (atualmente está na Record, mas na época fazia parte da equipe de esporte da Globo). Nem lembro o que ele me perguntou, mas a sonora (entrevista) não foi ao ar. A TV Cultura enviava a jornalista Lia Benthien. Eu era fã das reportagens dela. A equipe do canal 2 sempre chegava no Portelão a bordo de uma antiga Chevrolet D-20.

Se o jogo era às 15h, por volta do meio-dia eu pegava minha berlineta e fazia uma ronda no entorno do ginásio. O objetivo era observar as equipes de reportagem desembarcando no ginásio. Ficava eufórico só de observar aquilo. Cabos de tramissão, montagem de câmeras e ajustes de antenas. Em casa, deixava o vídeo-cassete programado para gravar. Pouco antes do apito inicial lá estava eu com meus amigos atrás do alambrado perto da entrada principal do "Caldeirão Suzanense".

Essa era a rotina da época. Orgulho de ter um time competitivo que levava o nome da cidade para outras freguesias. Até hoje pessoas de outras regiões ainda relacionam Suzano com o esporte que lhe rendeu anos de glória. Um amigo de Boituva, que trabalha atualmente comigo em Mogi das Cruzes, é um deles. "Só conhecia Suzano por causa do vôlei", diz Pedro Carlos Leite. O time tornou o município, na época com 200 mil habitantes, conhecido no país e na América do Sul. 

E e só ouvir a música "O canto da cidade" de Daniela Mercury (tema do time) que tudo me volta a cabeça. A vibração da torcida, o cheiro da pipoca, meus cabelos da adolescência, minha vontade de estudar jornalismo e o orgulho de ser suzanense.  

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Na batida do Taikô

Quando percebi já era tarde. Me vi no monitor do estúdio, no ar, com os braços levantados na sincronia da batida. Foram intermináveis segundos e a vontade era de cair debaixo da bancada. Não tinha mais nada a fazer. Tentei esconder a caixinha do suco nos últimos momentos quando dei mais uma olhada no monitor e lá vi minha cara sem graça. Não tinha mais nada a fazer mesmo. Uma semana depois eu estava no Top Five do programa CQC da Band. (Veja vídeo)

Em época de Akimatsuri em Mogi das Cruzes (tradicional festa japonesa), me peguei lembrando desse episódio esta semana e uma postagem do amigo Ricardo Rodrigues no Facebook desencadeou inúmeros comentários sobre o Taikô na bancada, né Ana? Além do fato em si (da minha cara de ué), passamos a lembrar do nosso dia a dia na emissora naquela época. 

Era uma rotina bem diferente. Despertava às 4h da matina e por volta das 5h já estava sentado diante do computador na redação finalizando o programa com meus colegas. Maurício e Nádia eram os nossos produtores anjos da guarda. Pouco antes das 6h, Juliana [minha companheira de bancada] e eu descíamos para o estúdio e 30 minutos depois estávamos dando bom dia, ao vivo, aos telespectadores do canal a cabo. Às oito entregávamos o programa e iniciávamos a produção para o dia seguinte. 

Uma equipe nova, assim como a emissora. Eu, nascido no final dos anos 70 e fã do filme "O Vingador do Futuro", era tido como "tiozão" da turma. O nosso programa tinha um clima agradável de diversão e amizade. Tomávamos café juntos todos os dias após sairmos do ar: técnica, produção e apresentadores. Mas naquela terça-feira de junho de 2012 algo deu errado.  

O programa acabou bacana com imagens de um evento em comemoração à imigração japonesa com um grupo de Mogi tocando Taikô. A batida envolveu os apresentadores e, enquanto o letreiro subia, Juliana e eu começamos a tocar Taikô imaginário. Jogamos os braços pro alto e fomos na batida. Uma mistura de percussão japonesa com Timbalada. 

Confesso que comecei primeiro, mas logo a Ju acompanhou meus movimentos. Fizemos aquilo porque o sinal não voltaria a ser aberto no estúdio. A atração matinal já havia acabado. Mas por um problema técnico a imagem voltou, né Juan?

Meu ponto eletrônico estava quebrado e, por isso, não estava usando o equipamento naquele dia, mas do estúdio deu para ouvir o grito do Mauricio vindo lá da switcher: "Nãooooooooooooooooo". A coisa estava feita e lá estávamos nós dois no monitor, no ar. Sem defesa e sem dó. Era só perdão que eu poderia pedir no momento. Depois da sessão gargalhadas veio a preocupação, porém, naquele dia ninguém nos chamou a atenção. Aliás, nunca levamos bronca por causa do ocorrido. Valeu, Paulo.


Ju,liana, eu e os '"anjos da guarda", Maurício e Nádia
Os dias se passaram e o vídeo foi parar no YouTube [veja vídeo]. Até aí tudo bem, somente nós da emissor assistíamos para dar risada. Em dois dias, 18 visualizações. Porém, em uma tarde fria uma pessoa me liga e diz. "Cara, eu vi um vídeo seu no Kibe Loco". Já eram 10 mil visualizações. Mais tarde a sessão Taikô foi parar no Yahoo e no dia seguinte mais de 50 mil pessoas já haviam assistido o nosso deslize. Foi aí que a nossa bronca [que havia sido adiada] se transformou em elogio. "Legal o que vocês fizeram", disse alguém da direção da TV.

Porém, o ponto alto foi mesmo a aparição no TOP Five do CQC. Naquela segunda-feira eu já estava dormindo, afinal acordava antes das galinhas. Despertei com o toque do celular e as mais de 100 notificações no Facebook. Confesso que imaginava que a "nossa falha" pudesse virar chacota do programa da Band, mas não botava fé. E virou.

No dia seguinte Juliana e eu ganhamos status de celebridade no local de trabalho. Estávamos em inúmeros blogs espalhados pelo Brasil e onde íamos as pessoas falavam da aparição. O Maurício Bueno da produção pirava com os comentários. Um deles me chamava de "gordinho cara de toba". Esse é o preferido dele.

Até hoje, quase dois anos depois, minha colega jornalista Vania Rodrigues, que trabalha lá com o Silvio Santos, ainda me chama de "Douglas CQC". E no final daquele ano a nossa peripécia ganhou o segundo lugar no TOP Five melhores de 2012. [Veja vídeo]

Tudo bem. Nos empolgamos com a batida do Taikô. Aliás, percussão costuma chamar a atenção e, em alguns casos, provoca movimentos involuntários. Beleza, imitamos os japoneses e não há nada de mau nisso, muito pelo contrário, a "falha"se tornou uma homenagem à respeitosa colônia japonesa. 

Agora... tem uma coisa que me intriga até hoje e acho que jamais terei resposta para tal indagação. Não sei o motivo pelo qual eu tentei esconder a caixinha do suco. 

Matéria Yahoo

Matéria Kibe Loco

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Esporte preferido: observar

Tem um homem de aproximadamente 45 anos que corre num ritmo forte, olhando sempre para frente com o rosto levemente risonho. Não usa aquelas roupas mais apropriadas para corrida, porém, o desempenho físico parece ser o mesmo. Camisa polo com um crachá escondido, calça preta e fones no ouvido. Por onde passa trotando leva consigo o barulho do atrito de chaves e moedas acumuladas no bolso. Esse cara corre no Parque Max Feffer, em Suzano.

O parque pela manhã tem cheiro de mato porque quase sempre há um funcionário cortando a grama com aquelas máquinas. Quando o ruído do aparelho cessa, são os quero-queros que roubam os decibéis com aquela gritaria aguda. O parque também tem barulho de respiração ofegante dos corredores que sobem e descem a pista de cooper quebrando calorias e recordes.

São duplas, grupo com quatro pessoas e os sozinhos que tem a música inserida no ouvido pelos fones como companhia. Cruzo com as pessoas e sempre pego duas ou três frases de diálogo. Alguns estão contando um fato, outros reclamando de uma situação. Boa parte dos assuntos está relacionado a perda de peso e alimentação saudável. 

Tem uma mulher de aproximadamente 60 anos que corre ao lado do marido. Ela trota e ele anda a passos largos. Ela usa chapéu e uma camisa de tecido fino de manga longa. Ele vai de camiseta e é bem mais alto que a esposa. O parque pela manhã coleciona histórias. São pessoas que estão ali a mando do médico para controle de índices glicêmicos. Outras que querem apenas emagrecer e algumas que não vivem sem o hormônio que é despejado no sangue quando nos exercitamos. 

Curto o clima democrático daquele lugar. São pessoas de várias idades, estilos e classe social. Quase todas estão ali com o mesmo objetivo: se exercitar. Vou ao parque sempre quando posso. Para fazer uma caminhada de leve, respirar um ar puro e praticar a observância.