sexta-feira, 6 de junho de 2014

Vai ter Copa

Zico perdendo pênalti contra a França em 1986 (Google Imagem)
Tinha 9 anos quando o Brasil foi eliminado pela França nos pênaltis na Copa de 1986, no México. Na sala da minha antiga casa da Rua Tiradentes, centro de Suzano estavam: pai, mãe, irmão com 6 anos e irmã de 2. Eu tinha noção que aquilo era uma competição importante. Vi Sócrates, Zico e Careca caírem nas oitavas. Meu pai reclamou o tempo todo dos gols perdidos durante a partida. Foi a primeira sensação derrota no esporte que vivi. O clima de luto pós jogo era inédito pra mim.

Nós no circo depois do jogo do Brasil em 1990
Em 1990 eu já estava na sétima série e tinha 13 anos. Lembro da propaganda do Kadetti Turim na televisão (era o carrão do ano). Me recordo da abertura do mundial e do primeiro jogo: Itália e Áustria. Eu já era corintiano e acompanhava futebol. O jogo decisivo contra a Argentina foi em um domingo. Na segunda etapa parei de ver a partida em casa e corri até minha avó, que morava a poucos metros de mim. Mesmo com a rua deserta, no meio do caminho, ouvi o país lamentar com o gol de Caniggia. Fiquei triste mais uma vez, mas o luto passou rápido e naquela mesma tarde fui ao circo Frederico Orfei com meus pais, irmãos e primos. 

Branco, Romário e Dunga (Google Imagens)
Aos 17 anos, um mês antes da chegada da nova moeda do Brasil em 1994, eu era balconista em uma papelaria em Suzano. A Copa tinha um outro significado. Além de mais antenado no Mundial, a sensação de sair mais cedo do trabalho para ver os jogos da seleção em casa, na época, era o mesmo que ser dispensado da escola quando o professor das últimas aulas de matemática faltava. A sala da minha avó parecia uma arquibancada. Tios, primos, pipoca e Ajinomoto. Romário jogou muito e o Brasil foi passando pelas seleções até chegar na Itália. Nas cobranças de pênaltis, meu tio Carlinhos se trancou dentro do carro. Baggio foi o cara responsável por uma das mais fortes explosões de alegria que já senti na vida. "É tetra, é tetra", berrava Galvão na televisão. O país saiu às ruas e a minha adolescência teve um gosto a mais naquele ano.

Clima após a derrota contra a França (Google imagem)
Ainda me considerava um adolescente em 1998 e a Copa da França tinha tudo para ser a melhor de todos os tempos. Eu tinha certeza que o Brasil seria penta naquele ano. Não foi. Por que? Bom, na época eu era estudante de jornalismo e escrevia uma espécie de artigo em um jornal de distribuição gratuita em Suzano, do meu amigo Chiquinho. Tinha 21 anos. Trabalhava, estudava e baladeava. Esse foi um ano incrível. Na véspera da final, um sábado de temperatura baixas, fui a um casamento e tinha certeza que no dia seguinte levantaríamos a taça. No domingo, quando o Galvão (com uma voz estranha) disse que Ronaldo era dúvida (uma hora antes do jogo) pensei: "Perdemos a Copa". Eu e meus amigos (reunidos para torcer) vimos a França dar uma surra em nossa seleção. Neste dia não teve comemoração no centro da cidade.


Cafú levantando a taça (Google imagem)
Assistir aos jogos de madrugada não era empecilho. Eu ia muito com a cara da seleção no Mundial da Coréia - Japão. Rivaldo e Ronaldo, naquele ano, arrebentaram. Eu tinha mudado de casa recentemente e trabalhava como vendedor de livros no shopping de Suzano. Dava para trabalhar e acompanhar a seleção. Porém, no domingo do Penta eu tive de abandonar um churrasco e ir para a livraria. Detalhe: foi o primeiro churrasco na história que eu vi começar às 8h. Aconteceu em um condomínio na Rua Tiradentes (onde morei por 17 anos). Gritei é Penta várias vezes, abracei os amigos, não bebi, comi carne e fui trabalhar por volta do meio-dia. O pai de um amigo estava tão bêbado que em vez de Brasil, ele gritava "Barrel". 

Estreia contra a Croácia (Google imagem)
Não sei porque, mas não curti muito a Copa de 2006. Eram bons jogadores, mas algo não me agradava. A estreia também foi contra a Croácia (como agora em 2014), com vitória. A formação tática da seleção contava com um tal de "quadrado mágico", porém, não encaixou. Já trabalhava como repórter no jornal Mogi News e assistia aos jogos na redação. Na estreia, faltando 30 minutos para o apito inicial, moradores da Vila Natal, em Mogi, ligaram na redação revoltados dizendo que a havia acabado de ocorrer um blackout no bairro. A chefia de reportagem me enviou para o local. A pauta seria para mostrar que a queda de energia deixou pessoas sem ver a estreia da seleção. Cheguei no bairro, mas a luz já tinha sido restabelecida. Graças a Deus a pauta caiu. Na volta cruzamos uma cidade deserta até chegar na redação. Um trajeto que levaria 30 minutos foi feito em 10. A estreia foi com vitória, mas logo mais a frente, nas quartas, caímos, mais uma vez, diante da França em um sábado frio.

Falar do Mundial de 2010 o que me vem a cabeça é Vuvuzela e Jabulani. Trabalhava a tarde na TV Mogi News e fui escalado para fazer as matérias dos jogos do Brasil. Neste caso, acompanhava cada partida em um local. Bares e restaurantes. Prestava a atenção no jogo, mas tinha que estar atento à pauta. Eu acreditava na seleção neste ano. Tinha um clima de hexa, mas não foi. Contra a Holanda minha pauta foi em uma casa noturna de Mogi que instalou um telão para os frequentadores acompanharem a peleja ao meio-dia. Lembro de um cara segurando um copo de cerveja e xingando muito nos minutos finais. O juiz apitou, ele escondeu o rosto e chorou. Rapidamente a rua ficou vazia e a festa nos arredores da praça Norival Tavares foi adiada para 2014.

Quando uma Copa acaba dá impressão que 4 anos são uma eternidade. Mas, quando é ano de Mundial percebemos que a espera não foi nada, ainda mais quando nós (Brasil) sediaremos o Mundial. Na época em que definiram que o Mundial seria aqui no Brasil achei bacana, num primeiro momento. Depois fiquei em dúvida se a organização de um evento tão grande como esse devia ser visto como prioridade em um país que carece de tantos serviços básicos. Porém, de qualquer forma torcerei para a nossa seleção como fiz em todas os mundiais. Vai ter Copa: os estádios ficaram prontos, as obras de infraestruta não como prometeram, Neymar irá jogar e o Brasil pode ser hexa.

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