segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Veja como parar de fumar. [Eu parei]

Estava diante da janela da sala com a cortina e vidros abertos para fazer a fumaça escapar. Passava das 23h quando dei uma longa tragada no cigarro de filtro branco. Pensava que no dia seguinte tudo seria diferente. Esse foi o último cigarro que fumei, no final da noite do dia 25 de janeiro de 2010. Desde então, nem mais uma tragada. São 4 anos sem a substância.

Fui um adolescente que nunca dei muita bola para esse negócio de cigarro. Meu pai fumava [ex-fumante]. Meu irmão mais novo dava umas tragadas por aí [ele ainda fuma], mas eu não ligava muito. Porém, no final dos anos 90, encasquetei que queria aprender a tragar. 

Já tinha uns 18. Queria saber soltar a fumaça e passei rápido por esse exercício fácil. No começo dá até tontura. Fiquei nessa de fumar de vez em quanto uns 6 meses. Entrei na faculdade e antes de aprender Metodologia Científica já era um fumante. No ano seguinte estava fumando quase um maço por dia. 

Quem fuma sabe. O falso bem estar inexplicável não vem apenas do ato de tragar aquela fumaça tóxica. O cigarro é o companheiro de mentira em horas felizes, tristes e agitadas. Se espera alguém: fuma. Se a pessoa chega: fuma. Se termina um trabalho: fuma. Se vai começar um trabalho: fuma de novo. O ato de fumar se envolve na rotina do viciado. Por isso que é realmente extremamente difícil abandonar isso. Você sente a falta da droga na corrente sanguínea e também sente a falta da companhia do cigarro nas coisas que fazia com ele. [só fumantes e ex-fumantes entenderão 100% essa passagem do texto]. E se eu ainda fumasse, talvez daria uma pausa agora para acender um.

Não sou chato ex-fumante, daqueles que gostam de palestrar diante dos que ainda usam a substância. Quem quer fumar, fume. Falo que consegui parar com muito prazer, mas somente se houver um momento oportuno. Não ligo para o cheiro da fumaça. Ela nunca me incomodou e, mesmo depois da separação, não ligo de estar ao lado das pessoas que fumam. 

Pois bem. Depois de anos ao lado do cigarro a vontade de parar começou a piscar no painel. Em 2003, cheguei a ficar 6 meses sem fumar, mas acabei voltando. É que não adianta os outros quererem. Quem toma é decisão é quem fuma. No final de 2009 fiz um check up e o médico disse: "Douglas, você está ótimo, não tem nada. Vai esperar ter alguma complicação para largar o cigarro?". Aquela frase martelou na minha cabeça de forma cadenciada durante um tempo. Como uma bate estaca da construção civil.

Parar de fumar não é como deixar de comer algo que você gosta. É diferente de não ir mais naquele bar que você ama. Não é igual desistir de um curso que sempre quis fazer. Nada disso. Abandonar o vício é deixar de consumir algo que o corpo pede de forma gritada. 

Mas é possível parar de fumar. Claro que é. Depois que saí da sala do médico a ideia de parar com a droga ficou na minha cabeça. Só precisava elaborar um plano para isso. Era meados de setembro de 2009 começava a me preparar e fixei uma data. Pensei comigo: fumarei até o dia 25 de janeiro do ano que vem. Depois disso, não mais. E sabia que esse dia chegaria. Depois do Natal e Ano Novo logo veio a noite do dia prometido. E lá estava: eu e ele. Fumei o último cigarro como se estivesse despedindo de alguém que não queria mais ver. [vai embora, será melhor para mim]. Essa era a pegada. 

No dia seguinte as pessoas logo perceberam que eu não mais mantinha mais entre os dedos aquele pequeno cilindro de papel nocivo. Os dois meses seguintes foram difíceis. Muito difícil. A abstinência dói. Mas é como atravessar uma turbulência, uma tempestade, uma noite escura... uma hora acaba. E quando passa você sente uma satisfação imensurável.

Um ex-fumante sempre lembrará que já foi fumante, mas dá pra conviver com isso numa boa. Dá vontade as vezes, mas é algo fácil de lidar. Como se fosse vontade de comer lasanha. Se não tem, não come. Dá para viver sem lasanha. 

A pior parte é que engordamos. O alimento fica mais gostoso. No entanto, muitas vezes mantemos alguns rituais da época da droga. Por exemplo, trabalho com alguns fumantes e ainda frequento o fumódromo para papear e descontrair. Eles fumam e eu como uma banana.  

Depois de atravessar a dolorosa separação até parece que foi fácil. Tomo café e cerveja e nem lembro que ele existe. Mas não foi fácil. Por isso sempre digo aos mais novos e as pessoas que estão nessa de aprender a tragar, como eu fiz um dia. O caminho mais fácil para largar o cigarro é nunca fumar. Estou livre há 4 anos. 

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O fenômeno La La La Dog

Era uma terça-feira. Minhas férias estavam chegando ao fim e resolvi ligar o computador para acessar o portal de notícias onde trabalho. Li a matéria que ganhava destaque na página naquela manhã do dia 29 de outubro. O desenho do cão colorido me despertou interesse e a história do artista me fascinou logo de cara. 

Já tinha visto a arte do rapaz em alguns muros de Mogi das Cruzes no embaralhado meio urbano, mas não botei muito reparo. Porém, lendo o texto, percebi que aquilo tinha uma razão. O amor verdadeiro entre o cão e seu dono. Havia acabado de ser apresentado ao La La La Dog. Uma manifestação artística em homenagem à cachorra [falecida] do grafiteiro. A dogue alemã, Dalila.

Basta dar umas voltas por Mogi das Cruzes com atenção voltada aos muros e fachadas abandonadas. Não é difícil de encontrar. Trata-se de um desenho feito com tinta spray. A figura é de um cachorro de porte grande. São várias as cores. Tem La La La boiadeiro, prateado, Papai Noel, azul e rosa, verde, preto...

E o cão foi adquirindo popularidade. Foi ganhando admiração não só de crianças, mas de muitos adultos, inclusive eu. Em Mogi existe um grupo de amigos que sai à “caça” dos La La La Dogs. O objetivo é fotografar a arte urbana. Melhor ainda é sair na foto ao lado do cão mais famoso de Mogi. E além da região, o artista já deixou sua marca em São Paulo, litoral paulista e até em Porto Alegre.

No dia 25 de dezembro me surpreendi com uma ilustração em Suzano, talvez a primeira marca dele na cidade. Na cor azul, em uma porta de ferro... lá estava a arte. Fotografei e contei a história para a minha noiva que também ficou fascinada. O imóvel estava para alugar e pertence a uma pessoa conhecida da minha família. O desenho não teria agradado num primeiro momento, mas ao tomar conhecimento da história, La La La Dog ganhou mais fãs suzanenses.

E a fama do cão colorido só faz aumentar. A primeira exposição foi marcada no shopping de Mogi das Cruzes. Conversei com o artista Jaum por telefone [não o conheço pessoalmente] para uma matéria jornalística. Sujeito calmo, de fala tranquila e feliz com as coisas boas que a arte lhe proporcionou.

A imagem da cachorra Dalila nos muros velhos de Mogi das Cruzes reflete um pouco do amor que muitos sentem por seus animais de estimação. Eu estou nesse grupo de apaixonado por cães. São os seres mais puros e verdadeiros que conheço [característica rara entre os humanos]. E é por isso que a Dalila merece toda essa exaltação espontânea que vem das ruas. E o Jaum, artista que passei a admirar, tem todo o meu respeito.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Sem saída

Meu carro não tem ar condicionado. Então conto apenas com a abertura das janelas. O ar circula enquanto o veículo desliza sobre o escaldante asfalto dos dias quentes deste janeirão de 2014. Sabe aquele horizonte de piche derretido? A máquina sofre, o ponteiro da temperatura logo alcança o máximo e a ventoinha se desdobra. 

Depois do almoço os termômetros tinham acabado de passar pelos 30. O trânsito seguia normal e, no céu, as primeiras cumulus nimbos já estavam estacionadas. "Pode ser que chova mais tarde", pensei. 

Descobri que dirigir com a janela aberta é prejudicial à saúde. Meu braço esquerdo não parece ser da mesma pessoa que ostenta o membro superior direito. Um é quase negro. O outro moreno claro. O braço canhoto é alvo constante dos raios ultravioleta, pensei. Protetor solar é a solução. E quando esqueço dirijo com o braço ligeiramente recolhido. Neste dia eu esqueci e somente lembrei quando o trânsito já estava parado há 5 minutos.

Trânsito parado pode ser reflexo de semáforo demorado ou até excesso de veículos à frente. Se o tráfego continua estagnado por mais de 5 minutos, na minha opinião, é sinal de que algo pode ter acontecido. Estar na inércia por mais de 10 é ter certeza que existe algo de errado.

Ficar estacionado no meio da pista em uma fila de carros aguça a curiosidade. É normal pensar no que pode ter ocorrido lá na frente. Acidente? é sempre a primeira opção que estala na mente. Só que uma caminhonete à minha frente conseguiu subtrair meu campo de visão do horizonte de automóveis.

O sol ainda era forte, mas outras nuvens de chuva faziam companhia às primeiras cumulus. Eu estava na faixa da esquerda e do meu lado direito chegou um caminhão pesado que começou a expelir fumaça preta na minha direção. Fechei a janela direita. O calor aumentou em questão de segundos. Pensei: "Tenho que sair daqui", imediatamente.

Já estava parado no mesmo lugar por mais de 15 minutos Alguns motoristas desligaram o motor. O caminhão não. Pois bem, dei seta à direita, consegui sair da pista e entrar no bairro. A impressão é que todos os carros tiveram a mesma ideia. Sendo assim: bairro e a avenida engarrafados. O tempo fechou e a chuva pesada era questão de minutos. 


Pois bem. Todos os carros que optaram por cortar caminho pelo bairro teriam de voltar para a pista. Um rio com nome de cidade, logo à frente, era o limite. Resultado: tudo travado. Pista, bairro e acessos à pista. Parei em um posto de combustíveis e desci para comprar uma água. A chuva veio forte e pesada. Eu já estava atrasado. 

Tudo virou um caos. Consegui cortar caminho pelo bairro e pulei uns dois quilômetros de engarrafamento pelos trepidantes paralelepípedos. No entanto, tinha de voltar para o caminho de origem. Após mais de 10 minutos aguardando para entrar na pista, consegui. A chuva refrescou o ambiente e a impressão era de que estava prestes a descobrir o causador do grande engarrafamento.

Ingressei em um trecho de subida exigindo bastante da embreagem, no famoso anda e pára, e logo vi o que tinha bloqueado o único corredor de veículos que liga duas cidades com seus quase um milhão de habitantes. Quem vive em Suzano e trabalha em Mogi, como eu, ou vice-versa, conta apenas com um único caminho.  

A famosa, velha e saturada SP-66. Uma pista que há décadas serve de ligação entre as duas cidades. Desde quando se ter um carro era o luxo do luxo.

Minha opinião e de boa parte de quem depende da estrada é uma só: é preciso mais um caminho, pelo menos, para dar conta da alta demanda. Não precisa ser um especialista em mobilidade urbana ou um gênio na área do transporte para enxergar isso. Os anos passaram, projetos são apresentados, mas na prática a coisa não anda. 

E mais uma vez, um caminhão quebrado na altura da Coca foi capaz de atrasar a vida de centenas de pessoas na tarde da última segunda-feira, dia 13 de janeiro. A SP-66 continua sendo a única ligação entre duas cidades. Quem vai dar jeito nisso? Quando? 

Dá próxima vez acho mais fácil comprar um carro com ar condicionado. Com o vidro fechado, a fumaça preta do caminhão não vem direto na minha cara. 

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Meu primeiro dia do ano

Tenho 36 anos. Não tenho filhos. Existe idade certa para ser pai? Me peguei pensando sobre isso recentemente. Surgiu no dia 1º de janeiro. Nesse dia acordei cedo. Era plantão na "firma" [minha futura esposa odeia que eu use esse termo]. Estava cheio de sono, afinal, no dia anterior a festa com a família foi intensa. 

Passava da meia noite e ainda era cedo para cair na cama. Cedo por conta das comemorações em andamento. Cedo por causa do calor. A impressão era de que o Sol estava escondido embaixo da minha cama.

Não sei o que anda acontecendo. A pessoa mais indicada para explicar esse calorão fora do normal é a minha colega Desirré Brandt. Ela não tem culpa, mas não gosto de ouvi-la dizendo na rádio: "E nada muda, o calor deve continuar em SP". Saudade da massa de ar polar.

Consegui me desligar quando já passava das 2h30. O último estampido de fogos 12 tiros que ouvi foi às 2h21. Nem foi o estouro que me despertou. E sim o granido da cachorra que sofria desde às 17h com os estouros. O olhar dela era de pânico. Meu pai virou o ano no quintal fazendo companhia para a pequena cachorra de pelos pretos chamada Chanel. Não gosto dessas bombas, pensei. Depois disso, peguei no sono.

Despertei sem problemas pela manhã. E rapidinho já estava na estrada. No caminho para o trabalho não havia carros na rua. E poucos pedestres. Parava no semáforo e um silêncio fora do comum vinha de fora. Nada igual o cenário urbano de um dia útil. Procurei um lugar para tomar café, mas quase todas as padarias estavam com as portas fechadas. Fui seguindo meu caminho. 

Achei uma quase chegando ao trabalho. Estacionei o carro e notei que havia um menino sentado bem na porta do estabelecimento. Camisa preta de banda de rock, jeans e All Star. Acionei o alarme do carro e, quando caminhava em direção a porta da padoca com chave, carteira e celular nas mãos, ele me perguntou. "Senhor, posso tomar conta?". Fiz sinal de positivo.

Dentro do estabelecimento eram poucas pessoas no balcão, menos ainda atendendo. Mesmo assim tudo foi rápido. Tomei um café reforçado. Lembei que levava dois refrigerantes de dois litros no banco traseiro do carro. Era o ingresso para o almoço de ano novo que seria armado no refeitório da TV, logo mais. Cada um levou um prato salgado, sobremesa ou refrigerante.

Na fila de caixa separei R$ 1 para o menino que prometeu guardar o veículo. Paguei no débito, guardei o cartão, perdi o ticket recibo que os economistas nos orientam a guardar. Enfiei carteira e celular de ponta cabeça no bolso. Acionei o alarme. E o menino surgiu. Dei a moeda e ele agradeceu dizendo algo que ficou na minha cabeça: "Obrigado, feliz ano novo para o senhor e para os seus filhos". Entrei no carro às 8h40 e fui enfrentar o primeiro dia de trabalho de 2014.