Tenho 36 anos. Não tenho filhos. Existe idade certa para ser pai? Me peguei pensando sobre isso recentemente. Surgiu no dia 1º de janeiro. Nesse dia acordei cedo. Era plantão na "firma" [minha futura esposa odeia que eu use esse termo]. Estava cheio de sono, afinal, no dia anterior a festa com a família foi intensa.
Passava da meia noite e ainda era cedo para cair na cama. Cedo por conta das comemorações em andamento. Cedo por causa do calor. A impressão era de que o Sol estava escondido embaixo da minha cama.
Não sei o que anda acontecendo. A pessoa mais indicada para explicar esse calorão fora do normal é a minha colega Desirré Brandt. Ela não tem culpa, mas não gosto de ouvi-la dizendo na rádio: "E nada muda, o calor deve continuar em SP". Saudade da massa de ar polar.
Consegui me desligar quando já passava das 2h30. O último estampido de fogos 12 tiros que ouvi foi às 2h21. Nem foi o estouro que me despertou. E sim o granido da cachorra que sofria desde às 17h com os estouros. O olhar dela era de pânico. Meu pai virou o ano no quintal fazendo companhia para a pequena cachorra de pelos pretos chamada Chanel. Não gosto dessas bombas, pensei. Depois disso, peguei no sono.
Despertei sem problemas pela manhã. E rapidinho já estava na estrada. No caminho para o trabalho não havia carros na rua. E poucos pedestres. Parava no semáforo e um silêncio fora do comum vinha de fora. Nada igual o cenário urbano de um dia útil. Procurei um lugar para tomar café, mas quase todas as padarias estavam com as portas fechadas. Fui seguindo meu caminho.
Achei uma quase chegando ao trabalho. Estacionei o carro e notei que havia um menino sentado bem na porta do estabelecimento. Camisa preta de banda de rock, jeans e All Star. Acionei o alarme do carro e, quando caminhava em direção a porta da padoca com chave, carteira e celular nas mãos, ele me perguntou. "Senhor, posso tomar conta?". Fiz sinal de positivo.
Dentro do estabelecimento eram poucas pessoas no balcão, menos ainda atendendo. Mesmo assim tudo foi rápido. Tomei um café reforçado. Lembei que levava dois refrigerantes de dois litros no banco traseiro do carro. Era o ingresso para o almoço de ano novo que seria armado no refeitório da TV, logo mais. Cada um levou um prato salgado, sobremesa ou refrigerante.
Na fila de caixa separei R$ 1 para o menino que prometeu guardar o veículo. Paguei no débito, guardei o cartão, perdi o ticket recibo que os economistas nos orientam a guardar. Enfiei carteira e celular de ponta cabeça no bolso. Acionei o alarme. E o menino surgiu. Dei a moeda e ele agradeceu dizendo algo que ficou na minha cabeça: "Obrigado, feliz ano novo para o senhor e para os seus filhos". Entrei no carro às 8h40 e fui enfrentar o primeiro dia de trabalho de 2014.
Gosto muuuito do seu jeito de escrever, Doug!!! Parabéns pela pessoa que é e vamos sempre à luta! Feliz 2014!!!
ResponderExcluir"A impressão que dava era de que o sol estava escondido debaixo da minha casa". Texto sensacional Doug! Adorei o tema =)
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