Foto: Rita Pires |
Naquela época, os desfiles carnavalescos em Suzano aconteciam nos 4 dias. Sábado eram os blocos e domingo as escolas. Depois essa sequência se repetia na segunda e terça. Mas o nosso desfile era foi em uma segunda-feira. Passava das 20h30 e lá estávamos na concentração, pouco antes da Praça dos Expedicionários.
O mais interessante no bloco era o espírito democrático. Desfilava quem tivesse vontade. Bastava aparecer com trajes femininos e se juntar aos outros [outras] na concentração. Não existia samba enredo. E o primeiro carro sempre satirizava o cenário político atual da cidade. Ali era exposta a criatividade do criador do bloco: o suzanense Américo Xavier. Um figuraça, amante do carnaval.
E assim que a sirene tocava as viúvas desciam a Glicério de peito aberto. Eita tempo bom. O público as aguardava com empolgação. E a bagunça tomava conta da rua mais conhecida da minha cidade. Me lembro o quanto era engraçado ver advogados, empresários, comerciantes e operários de Suzano vestidos de mulher. O mais gostoso no desfile era a participação do público que sempre interagia com travestidos.
E o nosso grupo debutava naquela festa democrática em 1998. Não havia brigas e confusões. Era só brincadeira e descontração. O desfile terminava lá na Praça João Pessoa (a segunda praça, como dizem os suzanenses). E a festa continuava até o final dos desfiles na passarela do samba.
O grupo subia a Rua Benjamin (paralela à Glicério). Era o caminho de volta à folia. Em pouco tempo já estávamos livres das roupas femininas e prontos para continuar curtindo o carnaval. Minha tarefa, naquele dia, era encontrar minha irmã para saber se ela tinha conseguido me fotografar no meio da bagunça.
As fotos foram feitas, mas só saberíamos o resultado depois da quarta-feira de cinzas. Era o antigo processo (revelação). E para falar verdade, até que era gostoso ter de esperar o resultado das fotos. Pois bem, botei fé que pelo menos um retrato sairia daquele rolo de filme. Fotografar em meio a arruaça que as viúvas promoviam no centro era uma missão meio que impossível.
Na ressaca de carnaval o resultado: fotos inéditas. Foi um sarro entre os amigos e familiares. Os retratos eram passados de mão em mão. Depois colocados em álbuns e arquivados em armários. Muito diferente da maneira como lidamos com fotos no mundo digital de hoje, com Facebook e Whatsapp. E como no carnaval tudo é festa, após 16 anos, resolvi publicar um desses retratos para comemorar. A foto abaixo é inédita. É a lembrança do último da Rua General Francisco Glicério.
Foto: Rita Pires |