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Eu tinha uns 8 anos.
Apelidava os trens de “cenourinha” e “batatinha”. As velhas
composições pertenciam a Companhia Brasileira de Trens Urbanos
(CBTU) que controlava o transporte ferroviário em SP naquela época.
Cenourinha, eram os trens com detalhes alaranjados. Batatinha os
amarelos. Hoje em dia nem imagino qual apelido as crianças dariam aos trens. Aliás, nem sei se as crianças de hoje tem tempo para observar trens.
Havia um estigma na
época: andar de trem é perigoso. O transporte público ferroviário
era rodeado de histórias de violência. Vândalos costumavam atirar
pedras nos vagões, que quase sempre circulavam de portas abertas.
Lembro dos “surfistas de trem” que arriscavam a vida no teto dos
vagões, dividindo espaço com a linha de alta tensão.
Diferente de hoje, as composições andavam no limite da capacidade somente nos horários de pico. Esse foi o
argumento usado por mim quando pedi para meu pai nos levar [eu e meu
irmão] para andar nos velhos carros da CBTU. Quando tinha uns 10 ou 11 anos cismei que
queria viajar nos vagões. Tinha muitas dúvidas: de onde os
trens vêm e para onde vão. Como é dentro das estações e dos
vagões. Meu pai respondia o que dava e eu me convencia com os
argumentos dele. Nas férias escolares de julho, no final dos anos 80, embarcamos na Estação de Suzano, sentido São Paulo.
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O teto era alto e não tinha como segurar naquelas antigos ganchos. Achei estranho o balanço nos vagões e aquele barulho cadenciado, porém, o que mais me chamou a atenção foi o movimento dos ambulantes. A fala estridente dos vendedores oferecendo produtos de forma repetitiva. Fomos até a Estação Artur Alvim. Desembarcamos e ficamos aguardando o outro trem para retornarmos a Suzano. Do lado de fora da estação havia uma movimentação de operários. Na época, meu pai me explicou que se tratava da construção de uma linha metrô. Eram as obras da linha vermelha.
A volta foi ainda mais interessante, pois sem a carga de ansiedade, pude observar ainda mais o caminho feito pelo trem. Retornei a Suzano satisfeito pela viagem. Foi a realização de um desejo.
Só que a viagem de trem me levou a outras três vontades: andar de metrô, ganhar um Ferrorama e outro que eu ainda não realizei. Meu terceiro desejo é viajar na cabine do maquinista. Quem sabe um dia, rs!
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