quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O melhor presente de Natal

Estávamos em oito. O papo seguia embalado como em todas as tardes no horário do café em uma das mesas do refeitório da empresa. Para comer: coxinha, bolachas e pão na chapa. E de bebida tinha suco, água de coco e iogurte. Ocupávamos a última mesa do espaço, situada ao lado da estrutura transparente que nos permitia ver o tempo nublado lá fora naquela tarde de quarta-feira, mês de novembro. De repente, alguém diz. “Eu gostava do Pitfall”. E na ponta da mesa o colega responde tentanto imitar o som do joguinho do extinto video-game Atari. Os oito amigos riram alto e o rumo da conversa acabara de mudar. A partir daquele momento, começaríamos a relembrar dos fantásticos jogos do Atari e a evolução dos video-games.

Isso tudo me fez voltar ao Natal de 1987. Tinha 10 anos e a matemática quase me fez repetir de ano na quarta série da Escola Estadual Antonio Marques Figueira, em Suzano. Aqueles problemas de porcentagem não entravam na minha cabeça, mas, por outro lado, era um aluno disciplinado e ia bem em outras matérias. Fiquei de recuperação, estudei e passei. Foi a professora Marilene que deu a boa notícia aos meus pais. Sendo assim, eu ganharia um presente de Natal. Na verdade, ganharia de qualquer forma, eu acho.

Por volta das 19h do dia 24 de dezembro a casa já estava envolta em um clima de ceia. Cheiro de comida boa pairando (coisa de gordo). Meu irmão tinha 7 anos e a irmã 3. Lembro da minha mãe terminando de preparar o jantar na cozinha. A prima Amanda, que também tinha 10 anos, estava em casa e meu pai, provavelmente, dava um auxílio nos afazeres domésticos. 

As horas se seguiram e por volta das 20h30 chegava a informação de que meu pai foi visto pulando uma das janelas com um grande embrulho nas mãos. Ao que tudo indicava era o presente. Fontes ligadas ao meu pai disseram na ocasião que havia chances de ser um vídeo-game Atari. Neste caso, um presente compartilhado entre eu e meus irmãos. Fiquei muito feliz. Porém, a informação não era oficial.

Pouco tempo depois meu pai entrava pela porta da sala de nossa antiga residência na Rua Tiradentes, centro de Suzano, com a grande caixa na mão. As fontes estavam certas. Rasguei o embrulho como um pitbull feroz e lá estava o video-game Atari. Foi uma felicidade indescritível. Pulei, abracei meu pai e logo queria ver o aparelho funcionando.

Daí percebi que tudo se encaixava. Meu pai pulou a janela para não passar pela sala. Mas isso nem importava. Após a instalação do Atari, lá estava eu tentando controlar o carrinho do Enduro na tela da antiga TV Mitsubishi (a primeira colorida da minha casa, porém sem controle remoto). Foi um dos natais mais feliz da minha vida. Meu pai arrebentou no presente. Só perdeu para o presente do natal de 1986. Já falei sobre isso aqui. Veja. <<<<clique aqui>>>>

Primos e tios chegaram. Organizávamos filas para que todos jogassem. O aparelho não tinha hora para ser desligado naquele dia. E assim foi madrugada a dentro. A empolgação era qual seria o próximo cartucho (jogo) a ser comprado. O segundo que ganhei foi Frogger, presente do meu tio Jorge, dias depois. Aquele em que o sapinho tinha que atravessar avenidas para ganhar pontos. Pai, mais uma vez, obrigado pelo presente.

E o papo na mesa do refeitório da empresa naquela tarde de quarta-feira seguia animado. “Paguei meu PlayStation em várias parcelas”, disse o colega. A conversa ainda era sobre vídeo-game. “Os finais do Street Fighter eram estranhos, lembram?”, comentou o outro colega. E por aí foi: Master System com Alex Kid na memória, Neo Geo, Mortal Kombat e Sonic. Após um breve silêncio um dos colegas se levantou rapidamente para voltar ao trabalho. O intervalo para o café estava terminando. Eu deixei o local em segundo e logo depois todos voltaram para a redação da TV Diário. Faltavam pouco mais de uma hora para o Diário TV 2ª edição começar. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Tem um jogador de futebol dentro da BMW

Havia um carro de luxo parado perto de uma rotatória em Mogi das Cruzes. Estava com um risco na lataria. Ao lado uma viatura policial e pouco mais a frente um caminhão. Pensei: houve um acidente de trânsito sem gravidade. E o carro de reportagem do Mogi News que me transportava naquela tarde seguiu viagem. Alguns segundos se passaram eu falei para o fotógrafo: "Mas aquilo está estranho". O motorista do carro do jornal (capaz de ler pensamentos de repórteres) deu a meia-volta.

Descemos e o policial militar que fazia anotações em uma ficha nada disse. É sério. Ele fez gestos de que não ia falar nada. Achei mais estranho ainda. Havia um grupo de crianças perto do carro. Dois meninos pendurados em um alambrado gritaram. "É o jogador de futebol fulano de tal que está aí dentro do carro. Ele falou com a gente".

Os vidros do carro eram protegidos por aquelas películas escuras. Não dava para ver nada lá dentro. Mas havia alguém lá dentro. As mesmas crianças que delataram o jogador disseram também que antes da chegada da reportagem o atleta chegou a tirar fotos por ali. Pois bem. A reportagem apurou que o carro e o caminhão se envolveram em um acidente quando contornavam uma rotatória perto de um hospital estadual no bairro Mogilar, em Mogi das Cruzes.

Nota publicada pelo jornal Agora SP sobre o caso
Outros policiais chegaram e a informação de que se tratava de um jogador de futebol foi se confirmando. E realmente ele ainda estava dentro do carro. Ele e a esposa. Chegou um caminhão guincho (estes de empresas de seguro) e a operação reboque começou. Mesmo assim, o atleta que há havia jogado no Corinthians, antes de se transferir para o futebol carioca naquela época, não saiu lá de dentro. As apurações continuavam até que veio a informação oficial. Era mesmo o tal atacante que estava dentro do valioso automóvel.

O carro foi guinchado e, de repente uma forte chuva caiu. Nossa equipe seguiu o guincho por alguns quilômetros até a Mogi-Dutra e resolvemos voltar. Na redação, após conversar com a editora, chegaram informações de que o futebolista era casado com uma mogiana e, por isso, estava na cidade com aquele carrão. Não me lembro, mas acredito que na época ele estava jogando pelo Vasco. Essa mesma fonte disse ainda que ele conheceu a esposa em Mogi, já que o atleta frequentava uma extinta boate que ficava nos quilômetros iniciais da Mogi-Dutra, na época em que jogou no Timão.

A matéria saiu no dia seguinte. A foto ficou bacana, mas ninguém conseguiu ver o rosto do polêmico atacante. Algumas semanas se passaram e um amigo me fez uma pergunta por meio do Orkut. "Douglas, você está trabalhando no site do Milton Neves?". Eu neguei, mas quis saber o motivo. E ele, rapidamente, sacou um link. Lá estava a minha matéria assinada com devidos créditos no site do apresentador. Foi uma surpresa.

Sei que o jogador atualmente está no Botafogo e é peça fundamental no time da estrela solitária. Me lembrei dessa história ao ver um carro idêntico em uma movimentada avenida estes dias. Curioso, fui pesquisar na Internet se havia registros do acidente sem vítimas envolvendo o jogador em Mogi e achei essa notinha do jornal AGORA SP: Carlos Alberto bate o seu BMW X5 
E as crianças tinham razão. Havia um jogador de futebol famoso dentro do carro. 

terça-feira, 29 de julho de 2014

Viciado

Faz quatro meses que entrei para essa vida. Acho que é um vício. Desde março faço uso disso. É a primeira coisa que penso quando acordo pela manhã. E faço quase todos os dias. Às vezes, cedo. Outras mais tarde. Ocorre à noite também. Acho que estou viciado em correr.
Google imagens
Tudo começou dia 24 de março, uma segunda-feira. Estava sedentário há uns dois anos e tinha que tomar uma decisão. No dia anterior, um domingo de plantão na redação, lendo matérias sobre pessoas que mudaram de vida com base na prática de exercícios físicos pensei: vou entrar nessa a partir de agora. Como um insight. Estava determinado e focado. Não era uma promessa boba, tanto que não contei para ninguém. Bastava somente eu saber.

O primeiro passo foi mudar a alimentação e naquele almoço, horas depois de ter lido a matéria, as coisas foram diferentes. Mais legumes, sem frituras e nada de refrigerante. E a tendência seguiu no jantar. Caso contrário, naquele domingo chuvoso, era certeza que eu meteria a cara em um junk food.

Na segunda-feira despertei cedo. Coloquei uma camiseta, bermuda e sai para caminhar, como não fazia há meses. Caminhava apenas dentro de casa e no local de trabalho. Só. Pesava pouco mais de cem quilos e achei melhor procurar um cardiologista também. Fiz os exames e oficialmente fui liberado para fazer exercícios.

Algumas semanas depois, as passadas começaram a ficar monótonas e meu corpo pedia pra correr. E me arrisquei nos trotes. No começo mal começava e o fôlego já esgotava. O tempo foi passando e a corrida ganhou destaque nos meus exercícios matinais e a medida que os números na balança iam diminuindo, mais força e gás eu ganhava.
Em março com 108 kg e em julho com 98 kg
A mudança foi quase que radical. Dou preferência aos pães integrais, abuso das saladas e sempre como uma fruta nos intervalos. Abri mão do refrigerante, aprendi a pingar gotas de adoçante no café, à noite não como mais antes de dormir e levo uma marmita balanceada para o local de trabalho.

O objetivo principal não era emagrecer. Verdade. Quis mudar o estilo. E com esse novo hábito, passei a dormir melhor e ter mais disposição. Os meses foram passando e os números continuaram caindo na balança. A sensação de quebrar gordura é sensacional. E atrelado a tudo isso eu passei a correr quase que diariamente.

A caminhada rápida precede o trote. Os primeiros minutos de corrida são de adaptação. Aos 10 minutos o corpo embala. O suor molha o boné dry fit e a respiração ofegante de nada incomoda. A sensação é de que dá pra correr igual o Forrest Gump. Só paro quando as dores surgem e quando o fôlego cessa. Ao fim a sensação é indescritível. Essa substância que o cérebro libera é muito boa. Estou viciado nisso. 

E minha rotina prossegue: alimentação balanceada e exercícios (corrida) quase que diários. Tinha 108 quilos no dia 24 de março. Cheguei aos 98 no final de julho. São números que apontam um emagrecimento significativo. Porém, voltar a entrar em roupas antigas, ter mais disposição e estar cuidando do meu bem mais precioso, a saúde, não tem preço. Não tem caloria gasta que pague. 

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Vai ter Copa

Zico perdendo pênalti contra a França em 1986 (Google Imagem)
Tinha 9 anos quando o Brasil foi eliminado pela França nos pênaltis na Copa de 1986, no México. Na sala da minha antiga casa da Rua Tiradentes, centro de Suzano estavam: pai, mãe, irmão com 6 anos e irmã de 2. Eu tinha noção que aquilo era uma competição importante. Vi Sócrates, Zico e Careca caírem nas oitavas. Meu pai reclamou o tempo todo dos gols perdidos durante a partida. Foi a primeira sensação derrota no esporte que vivi. O clima de luto pós jogo era inédito pra mim.

Nós no circo depois do jogo do Brasil em 1990
Em 1990 eu já estava na sétima série e tinha 13 anos. Lembro da propaganda do Kadetti Turim na televisão (era o carrão do ano). Me recordo da abertura do mundial e do primeiro jogo: Itália e Áustria. Eu já era corintiano e acompanhava futebol. O jogo decisivo contra a Argentina foi em um domingo. Na segunda etapa parei de ver a partida em casa e corri até minha avó, que morava a poucos metros de mim. Mesmo com a rua deserta, no meio do caminho, ouvi o país lamentar com o gol de Caniggia. Fiquei triste mais uma vez, mas o luto passou rápido e naquela mesma tarde fui ao circo Frederico Orfei com meus pais, irmãos e primos. 

Branco, Romário e Dunga (Google Imagens)
Aos 17 anos, um mês antes da chegada da nova moeda do Brasil em 1994, eu era balconista em uma papelaria em Suzano. A Copa tinha um outro significado. Além de mais antenado no Mundial, a sensação de sair mais cedo do trabalho para ver os jogos da seleção em casa, na época, era o mesmo que ser dispensado da escola quando o professor das últimas aulas de matemática faltava. A sala da minha avó parecia uma arquibancada. Tios, primos, pipoca e Ajinomoto. Romário jogou muito e o Brasil foi passando pelas seleções até chegar na Itália. Nas cobranças de pênaltis, meu tio Carlinhos se trancou dentro do carro. Baggio foi o cara responsável por uma das mais fortes explosões de alegria que já senti na vida. "É tetra, é tetra", berrava Galvão na televisão. O país saiu às ruas e a minha adolescência teve um gosto a mais naquele ano.

Clima após a derrota contra a França (Google imagem)
Ainda me considerava um adolescente em 1998 e a Copa da França tinha tudo para ser a melhor de todos os tempos. Eu tinha certeza que o Brasil seria penta naquele ano. Não foi. Por que? Bom, na época eu era estudante de jornalismo e escrevia uma espécie de artigo em um jornal de distribuição gratuita em Suzano, do meu amigo Chiquinho. Tinha 21 anos. Trabalhava, estudava e baladeava. Esse foi um ano incrível. Na véspera da final, um sábado de temperatura baixas, fui a um casamento e tinha certeza que no dia seguinte levantaríamos a taça. No domingo, quando o Galvão (com uma voz estranha) disse que Ronaldo era dúvida (uma hora antes do jogo) pensei: "Perdemos a Copa". Eu e meus amigos (reunidos para torcer) vimos a França dar uma surra em nossa seleção. Neste dia não teve comemoração no centro da cidade.


Cafú levantando a taça (Google imagem)
Assistir aos jogos de madrugada não era empecilho. Eu ia muito com a cara da seleção no Mundial da Coréia - Japão. Rivaldo e Ronaldo, naquele ano, arrebentaram. Eu tinha mudado de casa recentemente e trabalhava como vendedor de livros no shopping de Suzano. Dava para trabalhar e acompanhar a seleção. Porém, no domingo do Penta eu tive de abandonar um churrasco e ir para a livraria. Detalhe: foi o primeiro churrasco na história que eu vi começar às 8h. Aconteceu em um condomínio na Rua Tiradentes (onde morei por 17 anos). Gritei é Penta várias vezes, abracei os amigos, não bebi, comi carne e fui trabalhar por volta do meio-dia. O pai de um amigo estava tão bêbado que em vez de Brasil, ele gritava "Barrel". 

Estreia contra a Croácia (Google imagem)
Não sei porque, mas não curti muito a Copa de 2006. Eram bons jogadores, mas algo não me agradava. A estreia também foi contra a Croácia (como agora em 2014), com vitória. A formação tática da seleção contava com um tal de "quadrado mágico", porém, não encaixou. Já trabalhava como repórter no jornal Mogi News e assistia aos jogos na redação. Na estreia, faltando 30 minutos para o apito inicial, moradores da Vila Natal, em Mogi, ligaram na redação revoltados dizendo que a havia acabado de ocorrer um blackout no bairro. A chefia de reportagem me enviou para o local. A pauta seria para mostrar que a queda de energia deixou pessoas sem ver a estreia da seleção. Cheguei no bairro, mas a luz já tinha sido restabelecida. Graças a Deus a pauta caiu. Na volta cruzamos uma cidade deserta até chegar na redação. Um trajeto que levaria 30 minutos foi feito em 10. A estreia foi com vitória, mas logo mais a frente, nas quartas, caímos, mais uma vez, diante da França em um sábado frio.

Falar do Mundial de 2010 o que me vem a cabeça é Vuvuzela e Jabulani. Trabalhava a tarde na TV Mogi News e fui escalado para fazer as matérias dos jogos do Brasil. Neste caso, acompanhava cada partida em um local. Bares e restaurantes. Prestava a atenção no jogo, mas tinha que estar atento à pauta. Eu acreditava na seleção neste ano. Tinha um clima de hexa, mas não foi. Contra a Holanda minha pauta foi em uma casa noturna de Mogi que instalou um telão para os frequentadores acompanharem a peleja ao meio-dia. Lembro de um cara segurando um copo de cerveja e xingando muito nos minutos finais. O juiz apitou, ele escondeu o rosto e chorou. Rapidamente a rua ficou vazia e a festa nos arredores da praça Norival Tavares foi adiada para 2014.

Quando uma Copa acaba dá impressão que 4 anos são uma eternidade. Mas, quando é ano de Mundial percebemos que a espera não foi nada, ainda mais quando nós (Brasil) sediaremos o Mundial. Na época em que definiram que o Mundial seria aqui no Brasil achei bacana, num primeiro momento. Depois fiquei em dúvida se a organização de um evento tão grande como esse devia ser visto como prioridade em um país que carece de tantos serviços básicos. Porém, de qualquer forma torcerei para a nossa seleção como fiz em todas os mundiais. Vai ter Copa: os estádios ficaram prontos, as obras de infraestruta não como prometeram, Neymar irá jogar e o Brasil pode ser hexa.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Portelão ao vivo

UMJs da Rede Globo. Foto: Google Imagens
Em 1994 soube o que era uma UMJ (Unidade Móvel de Jornalismo) quando vi, pela primeira vez, algumas no estacionamento do Ginásio Municipal Paulo Portela, o Portelão, em Suzano. Era um domingo e naquele dia o time de vôlei campeão da minha cidade entraria em quadra. Tinha 17 anos e sempre estava por lá. Atenção voltada para a partida: um olho no lance e o outro no movimento dos repórteres que cobriam o jogo. Foi nessa época que tive a certeza de que queria ser jornalista. Me imaginava, um dia, fazendo aquilo que os repórteres faziam no Portelão. E os jogos para mim eram um misto de emoção diante dos gritos que vinham das arquibancadas (Suzanoô, suzanoô...) e a satisfação em poder observar a imprensa ali, tão perto de mim.

Maurício no Portelão. Foto: Google Imagens
Naquela época o time de Suzano ostentava jogadores campeões olímpicos. Giovani, Marcelo Negrão e Maurício eram sempre vistos em agências bancárias e supermercados da cidade. Suzano era a Capital do Vôlei e palco de inúmeras atividades voltadas para a prática do esporte. Campinhos de futebol perdiam a força e davam lugar as quadras improvisadas na periferia. Era só vôlei que os mirins queriam jogar nas ruas e nas escolas.


Giovani em quadra pelo Suzano
Os jogos eram quase sempre transmitidos pela TV Bandeirantes. Boa parte deles nas tardes de domingo. Marco Antônio (já falecido) e o apresentador José Luiz Datena eram sempre escalados para narrar as partidas ao vivo. E na reportagem da Band lá estava Olivério Junior. Fora os antigos repórteres do Globo Esporte (Lívio Lamarca, Roberto Thomé e César Augusto). Certa vez fui entrevistado por Michael Keller (atualmente está na Record, mas na época fazia parte da equipe de esporte da Globo). Nem lembro o que ele me perguntou, mas a sonora (entrevista) não foi ao ar. A TV Cultura enviava a jornalista Lia Benthien. Eu era fã das reportagens dela. A equipe do canal 2 sempre chegava no Portelão a bordo de uma antiga Chevrolet D-20.

Se o jogo era às 15h, por volta do meio-dia eu pegava minha berlineta e fazia uma ronda no entorno do ginásio. O objetivo era observar as equipes de reportagem desembarcando no ginásio. Ficava eufórico só de observar aquilo. Cabos de tramissão, montagem de câmeras e ajustes de antenas. Em casa, deixava o vídeo-cassete programado para gravar. Pouco antes do apito inicial lá estava eu com meus amigos atrás do alambrado perto da entrada principal do "Caldeirão Suzanense".

Essa era a rotina da época. Orgulho de ter um time competitivo que levava o nome da cidade para outras freguesias. Até hoje pessoas de outras regiões ainda relacionam Suzano com o esporte que lhe rendeu anos de glória. Um amigo de Boituva, que trabalha atualmente comigo em Mogi das Cruzes, é um deles. "Só conhecia Suzano por causa do vôlei", diz Pedro Carlos Leite. O time tornou o município, na época com 200 mil habitantes, conhecido no país e na América do Sul. 

E e só ouvir a música "O canto da cidade" de Daniela Mercury (tema do time) que tudo me volta a cabeça. A vibração da torcida, o cheiro da pipoca, meus cabelos da adolescência, minha vontade de estudar jornalismo e o orgulho de ser suzanense.  

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Na batida do Taikô

Quando percebi já era tarde. Me vi no monitor do estúdio, no ar, com os braços levantados na sincronia da batida. Foram intermináveis segundos e a vontade era de cair debaixo da bancada. Não tinha mais nada a fazer. Tentei esconder a caixinha do suco nos últimos momentos quando dei mais uma olhada no monitor e lá vi minha cara sem graça. Não tinha mais nada a fazer mesmo. Uma semana depois eu estava no Top Five do programa CQC da Band. (Veja vídeo)

Em época de Akimatsuri em Mogi das Cruzes (tradicional festa japonesa), me peguei lembrando desse episódio esta semana e uma postagem do amigo Ricardo Rodrigues no Facebook desencadeou inúmeros comentários sobre o Taikô na bancada, né Ana? Além do fato em si (da minha cara de ué), passamos a lembrar do nosso dia a dia na emissora naquela época. 

Era uma rotina bem diferente. Despertava às 4h da matina e por volta das 5h já estava sentado diante do computador na redação finalizando o programa com meus colegas. Maurício e Nádia eram os nossos produtores anjos da guarda. Pouco antes das 6h, Juliana [minha companheira de bancada] e eu descíamos para o estúdio e 30 minutos depois estávamos dando bom dia, ao vivo, aos telespectadores do canal a cabo. Às oito entregávamos o programa e iniciávamos a produção para o dia seguinte. 

Uma equipe nova, assim como a emissora. Eu, nascido no final dos anos 70 e fã do filme "O Vingador do Futuro", era tido como "tiozão" da turma. O nosso programa tinha um clima agradável de diversão e amizade. Tomávamos café juntos todos os dias após sairmos do ar: técnica, produção e apresentadores. Mas naquela terça-feira de junho de 2012 algo deu errado.  

O programa acabou bacana com imagens de um evento em comemoração à imigração japonesa com um grupo de Mogi tocando Taikô. A batida envolveu os apresentadores e, enquanto o letreiro subia, Juliana e eu começamos a tocar Taikô imaginário. Jogamos os braços pro alto e fomos na batida. Uma mistura de percussão japonesa com Timbalada. 

Confesso que comecei primeiro, mas logo a Ju acompanhou meus movimentos. Fizemos aquilo porque o sinal não voltaria a ser aberto no estúdio. A atração matinal já havia acabado. Mas por um problema técnico a imagem voltou, né Juan?

Meu ponto eletrônico estava quebrado e, por isso, não estava usando o equipamento naquele dia, mas do estúdio deu para ouvir o grito do Mauricio vindo lá da switcher: "Nãooooooooooooooooo". A coisa estava feita e lá estávamos nós dois no monitor, no ar. Sem defesa e sem dó. Era só perdão que eu poderia pedir no momento. Depois da sessão gargalhadas veio a preocupação, porém, naquele dia ninguém nos chamou a atenção. Aliás, nunca levamos bronca por causa do ocorrido. Valeu, Paulo.


Ju,liana, eu e os '"anjos da guarda", Maurício e Nádia
Os dias se passaram e o vídeo foi parar no YouTube [veja vídeo]. Até aí tudo bem, somente nós da emissor assistíamos para dar risada. Em dois dias, 18 visualizações. Porém, em uma tarde fria uma pessoa me liga e diz. "Cara, eu vi um vídeo seu no Kibe Loco". Já eram 10 mil visualizações. Mais tarde a sessão Taikô foi parar no Yahoo e no dia seguinte mais de 50 mil pessoas já haviam assistido o nosso deslize. Foi aí que a nossa bronca [que havia sido adiada] se transformou em elogio. "Legal o que vocês fizeram", disse alguém da direção da TV.

Porém, o ponto alto foi mesmo a aparição no TOP Five do CQC. Naquela segunda-feira eu já estava dormindo, afinal acordava antes das galinhas. Despertei com o toque do celular e as mais de 100 notificações no Facebook. Confesso que imaginava que a "nossa falha" pudesse virar chacota do programa da Band, mas não botava fé. E virou.

No dia seguinte Juliana e eu ganhamos status de celebridade no local de trabalho. Estávamos em inúmeros blogs espalhados pelo Brasil e onde íamos as pessoas falavam da aparição. O Maurício Bueno da produção pirava com os comentários. Um deles me chamava de "gordinho cara de toba". Esse é o preferido dele.

Até hoje, quase dois anos depois, minha colega jornalista Vania Rodrigues, que trabalha lá com o Silvio Santos, ainda me chama de "Douglas CQC". E no final daquele ano a nossa peripécia ganhou o segundo lugar no TOP Five melhores de 2012. [Veja vídeo]

Tudo bem. Nos empolgamos com a batida do Taikô. Aliás, percussão costuma chamar a atenção e, em alguns casos, provoca movimentos involuntários. Beleza, imitamos os japoneses e não há nada de mau nisso, muito pelo contrário, a "falha"se tornou uma homenagem à respeitosa colônia japonesa. 

Agora... tem uma coisa que me intriga até hoje e acho que jamais terei resposta para tal indagação. Não sei o motivo pelo qual eu tentei esconder a caixinha do suco. 

Matéria Yahoo

Matéria Kibe Loco