Pouco mais de 2
quilômetros separam os municípios de Ilhabela e São Sebastião, no litoral norte
de São Paulo. É claro, levando em conta os dois pontos mais próximos entre a ilha e o continente. E os únicos meios de transporte que ligam estes dois pontos são
as embarcações marítimas. A mais convencional é a balsa, com capacidade
para pouco mais de 50 veículos. Sem este meio de transporte operando, ninguém
entra e ninguém sai da ilha. A não ser se for por meio de transporte aéreo. E foi isso
que aconteceu na tarde de domingo, dia 27 de outubro. A balsa parou.
No começo não me
preocupei com o pé de vento e nem mesmo com a informação de um garoto, morador
da ilha, de que a travessia de balsa havia acabado de ser interrompida por conta
da mudança brusca no tempo. Tanto que durante o vendaval resolvemos almoçar.
Depois disso, passamos na pousada, fizemos as malas, o check out e deixamos o
local. O vento forte ainda tomava conta da cidade.
No posto de
combustível o frentista caiçara me disse. "A balsa ainda esta parada e
dizem que a fila de carros já está enorme. Pior que não tem previsão deste
vento parar", contou o homem.
Esta foi a
quarta vez que eu estive em Ilhabela. Adoro aquela cidade. Eu e minha namorada frequentamos
o município desde que começamos a namorar e sempre ouvíamos comentários sobre a
interrupção da balsa, em casos de ventos fortes, mas pela primeira vez estava
vendo, ao vivo, o que era aquela situação.
O frentista
ainda completou. "Estes dias fui levar minha filha ao médico, em Caraguá.
Quando ia retornar o tempo fechou e a balsa parou. Fiquei esperando por mais de
6h para atravessar", disse o rapaz sem espanto. Com o comentário dele, percebi
que quem vive na ilha ou do outro lado, e depende desse meio de transporte, está
bem acostumado com as reviravoltas no tempo e a impossibilidade de entrar e
sair da ilha de São Sebastião.
Depois da
conversa no posto fomos ver o fim da fila de carros e nos assustamos: eram mais
de 2 quilômetros de veículos enfileirados. Mas, por outro lado, a cidade não
virou um caos. Muito pelo contrário. O departamento de trânsito, habituado com
a situação, agiu rapidamente e foi organizando o comboio que crescia a cada
minuto. A fila de veículos a espera da balsa, que cruzava a cidade, foi formada
na lateral das ruas, perto das calçadas e demarcadas com cones. Havia placas por toda a cidade orientando os motoristas "FILA DE BALSA".. O trânsito não foi afetado.
Resolvemos não
ficar na fila. A esperança era de que o sistema fosse restabelecido e tudo
aquilo acabasse logo. Nos enganamos. A fila só crescia e a balsa não voltava a
operar. Havia duas opções: voltar para a pousada e retornar somente no dia
seguinte ou entrar na fila e correr o risco de passar a noite na rua.
Ilhabela, no entanto, não é só ventos e balsa. Vamos, então, falar de sua beleza principal: as praias
Acredito que a esta é a mais badalada de todas as praias da ilha. Fica do lado Sul da ilha. É bem frequentada e possui inúmeros quiosques. É uma linda praia com água limpa e areia fofa.
O turista precisa fazer uma pequena trilha para chegar ao local, que também fica ao lado Sul da ilha. Mas, acredito, que este seja o charme da praia. A trilha de cerca de 100 metros possui uma espécie de passarela, construída com madeira. O cenário é lindo: uma trilha em meio a Mata Atlântica. A praia é tem uma extensão menor, em relação às outras. Possui grandes árvores, pedras e alguns quiosques. Vale a pena.
Uma das primeiras praias em direção ao lado Sul e é frequentada por mergulhadores, em sua maioria. O local ainda abriga a Ilha das Cabras. A água é bem transparente. A pesca é proibida por lá.
Percorrendo de carro pela (SP-131) no lado Sul da ilha em uma manhã de sábado, um cenário me chamou a atenção. Tive a impressão de ter visto uma estrutura de casamento sendo montada na areia, na Praia do Veloso. Descemos e fomos ver de perto a arrumação. Eu estava certo. Três homens [moradores da ilha] davam os últimos retoques no altar improvisado que receberia, em algumas horas, um casal de noivos da capital paulista. O casamento estava marcado para às 16h. Passamos pelo local por volta das 11h. Tudo estava sendo feito meio que no improviso, mas o que vale é a intenção. Felicidades aos noivos.
Após cerca de 4 horas de paralisação, a balsa voltou a operar na travessia Ilhabela - São Sebastião com três embarcações naquele domingo à tarde. Mas, a essa altura, a fila de carros era quilométrica e dava voltas e voltas. A noite começou a cair e nós resolvemos retornar à pousada: que sacrifício.
Passamos mais uma noite na ilha e deixamos a cidade na manhã de segunda-feira. Pelo que pesquisei, não existe projetos para a construção de uma ponte ligando São Sebastião a Ilhabela. Acredito, porém, que não exista essa possibilidade, já que o canal é acessado por navios de grande porte a caminho do porto de São Sebastião.
Além disso, tem a questão do impacto ambiental. Outro agravante seria a estrutura da suposta ponte. Por isso acredito que o mais viável seja investir em mais embarcações e modernizar as existentes. Uma obrigação do governo estadual.
Na manhã de segunda-feira, voltamos a enfrentar filas pois apenas duas balsas estavam operando. A terceira apresentou problemas nos motores e foi retirada de lá. O problema continuou durante todo o dia e a média de espera foi de 3 horas.
Mas nada disso faz com que a ilha deixe de ter os seus encantos. Quem é mais próximo de mim sabe que sou um dos maiores admiradores desse município. Ilhabela, na minha opinião, é um dos lugares mais lindos desse país. Não só por conta de sua beleza natural, mas por sua história, suas lendas e seu povo. Ilhabela, voltaremos em breve.