sábado, 28 de dezembro de 2013

O ano termina. E nasce outra vez.

Foi tentando desativar o touchpad do notebook na manhã do último dia 27 de dezembro que comecei a lembrar dos fatos e notícias que alimentaram 2013. Um ano produtivo, cheio de alegrias e desafios. Voltei mais no tempo e lembrei ainda do Natal e Ano Novo de 1994. Não sei o motivo. Mas vieram as músicas do CD especial de Natal da cantora Simone na cabeça. Quem não se lembra do "Então é Natal".

Bons tempos. Naquele ano eu e meu irmão trabalhávamos em uma papelaria na Rua Benjamin Constant, no centro de Suzano. E durante o mês de dezembro este CD natalino cheio de refrãos marcantes tocou todos os dias na loja. Das 8h às 22h. Só deram "stop" por volta das 19h do dia 24. 

Durante o mês de Natal ele ficou no modo repeat. O que era bonitinho no começo virou tortura. Mesmo assim tenho saudade daquele ano. Aos 17 vi o Brasil ser tetracampeão. No ano seguinte me alistei no exército e enfrentei mais dificuldades nas aulas de física e matemática no 3º colegial.

Adoro lembranças e retrospectivas. Já disse aqui no blog. Escrevi sobre cheiros que me levam de volta ao passado. E tenho uma memória boa para garimpar certos detalhes de épocas passadas. Ainda em 1994, no dia 31 de dezembro, nós, funcionários da papelaria, lavamos a loja. Esfreguamos o chão com sabão e usamos muita água no enxágue. Era a sensação de fechar o ano com a consciência tranquila. 

Penso que isso seja o mais importante. Chegar ao final dos doze meses com a cabeça sossegada. Dívidas, quase todos nós temos. Mas não estou falando de pendências financeiras. O legal é ficar em paz. E se for para fazer o bem que seja o ano todo. Em pequenas ações. 

Alguns fatos me marcaram durante este 2013, ou melhor, duas reportagens que fiz. Imagina um casal que tem a primeira filha criada com amor e carinho. De repente, essa criança adoece e o diagnóstico é arrebatador: câncer no cérebro. A menina lutou contra a doença, mas acabou morrendo cerca de um ano depois. 

No entanto, a partida da filha acendeu a luz da caridade sincera nos pais. Pai e mãe, com o coração dilacerado, se tornaram voluntários em uma associação que cuida de crianças com câncer. E mais: fundaram um grupo e, vestidos de palhaços, visitam escolas e hospitais. A dor deles virou combustível para ajudar outras crianças doentes. Carina e Carlos admiro vocês. Quem quiser ler a matéria, basta clicar aqui. (não é vírus não, rs)

Outro fato que me chamou atenção em 2013 ocorreu já quase no final do ano. Foi quando conheci um Papai Noel de verdade. Não pela barba branca, roupa vermelha e o sininho. Não por isso. E sim pela bondade, felicidade e amor que ele distribui gratuitamente. É o seu Thomaz Fidalgo. Construiu um trenó adaptado sobre o chassi de um Fusca. E com o veículo especial sai às ruas de Suzano levando presentes e doces às crianças carentes. E a doação dele dura o ano todo. Longe da época de Natal, ele faz campanha dentro da pastoral da criança. Estive na casa desse senhor e, desde então, passei a acreditar em Papai Noel. Link da matéria 

E 2013 termina já já. Será lembrado como o ano das manifestações, do futebol campeão das Confederações e do Papa Francisco arrastando multidões. Em janeiro começa tudo de novo. Como diz a cantora Simone na conhecida canção "o ano nasce outra vez". Tenho o sentimento de dever cumprido, como o chão da loja lavada. Mas ainda tenho que desativar o touchpad do notebook. 

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Papai Noel no verão brasileiro

Lá vai ele sob o insano calor e agasalhado até a garganta. Eis o Papai Noel brasileiro. É justo o bom velhinho tupiniquim ter de derreter dentro do traje típico do polo norte em pleno o dezembrão com clima senegalês que vivemos por aqui? Todos os anos me pergunto isso. Acho que eu nunca seria Papai Noel por causa disso. 

Sou uma pessoa que sofre demais com o calor. Já relatei isso aqui no blog. Sou do tipo que idolatro o ar condicionado. Penso eu que não há como se defender das garras do verão. Vejamos. Com um frio de zero grau podemos vestir duas luvas, cachecóis e touca. E sob um sol de 40º? Só se ficarmos mergulhados em um recipiente com água até o pescoço e com pedras de gelo. Agora imagina o Noel e seu figurino?


O bom velhinho no Brasil tem de se cobrir como se estivesse gelo, sorrir pra criançada, tirar foto, e ver a neve de mentira cair na vitrine quente, enquanto no asfalto do estacionamento do shopping, lá fora, dá até pra fritar ovos no chão. Estes dias vi uma reportagem sobre um Papai Noel que recorre ao ventilador para trabalhar sob os 40º do Acre. Ele desenvolve sua função sentando e, bem ao lado, mantém o aparelho ligado no último. O forte vento esvoaça sua barba artificial e traz um frescor de mentira.

Agora, e se o bom velhinho viesse do Hawaí. Tatuado e de camisa florida?. Continuaria com as barbas brancas e manteria o ho, ho, ho. Nada de trenó e sim prancha de surf. Nada de renas. Ele poderia até usar um velho bugue vermelho para entregar os mimos. Regata, chinelos de dedo e óculos escuros.
Seria ótimo para nós. Papai Noel do litoral. E o velhinho queimado do Sol percorreria fácil pelo comércio da 25 de março, em São Paulo, ao meio-dia. Ficaria leve em Goiás e não se incomodaria com o sol quente de Manaus. Bastava aplicar o protetor solar. É claro que não seria a mesma coisa. Pensando bem, acredito que existem coisas que só são como são porque sempre foram como são. E não seriam se fossem diferente de como são. (pessoal, eu estou são escrevendo isso, ok?)

Não adianta. Papai Noel tem de ser do Polo Norte mesmo e continuar sofrendo no calor aqui no Brasil como o figurino. Certa vez durante a produção de uma matéria eu perguntei a um Papai Noel sobre o calor intenso de ficar com aquela roupa quente. E ele respondeu que o olhar e o sorriso das crianças lhe refrescavam o espírito e o corpo. É, ele tem razão. E se um dia minha esposa pedir para eu me vestir de Papai Noel para o meu filho [quando eu for pai], com certeza, eu o farei em pleno calor de dezembro. Feliz Natal a todos.


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O segundo melhor presente de Natal

Eu quis ganhar um ônibus de Natal em 1986. E ganhei. Foi o segundo melhor presente que Papai Noel me entregou. [só perdeu para o Atari, em 1987]. A réplica de um modelo de turismo era feita de lata, alumínio e plástico. Devia ter uns 80 centímetros de comprimento. O meu era da empresa Itapemirim e meu irmão virou dono de um coletivo da Expresso Brasileiro. Eram iguaizinhos aos de verdade. O corredor da minha antiga casa se tornou uma enorme avenida, devidamente pavimentada pelo felpudo carpete marrom claro e fiscalizada pelos olhares dos meus pais que refletiam a alegria dos filhos.

Citei o bom velhinho no começo do texto, mas a essa altura, aos 9 anos, eu não mais acreditava que os presentes das crianças do mundo inteiro eram, realmente, entregues por ele. Por isso pedi diretamente aos meus pais o tal ônibus. Nada de escrever carta para Noel.

Depois de um tempo desconfiei que os dois ônibus de brinquedo [meu e do meu irmão] foram comprados em outubro daquele ano. Minha investigação começou quando chegou o informativo de que não teríamos presente no dia das crianças. Sabia que o tal ônibus era caro e que meu irmão iria ganhar um igual. A investigação prosseguiu. 

Não questionei meus pais diretamente, mas, num certo dia, como que se estivesse munido com um mandado de busca e apreensão, eu revirei os possíveis locais onde os dois ônibus deviam estar ocultados.

Era uma tarde. Dia de semana. Minha mãe devia estar lavando o quintal. A TV ligada e eu vasculhando um dos quartos. Fui direito ao ponto. Estava embaixo de um monte de panos [se não me engano] dentro do guarda roupas.

Os veículos eram mantidos dentro de uma embalagem de papelão. Abri uma frestinha e toquei os dedos sobre a lisa lataria. Lembro do cheiro do brinquedo. Foi um momento de muita alegria. Era a certeza de que os ônibus viriam no dia 24 de dezembro. Não me lembro se revelei ao meu irmão, com 6 anos, o resultado da investigação. Também não tenho recordação se meus pais souberam disso. Enfim, acho que, no fundo, sabiam que eu sabia. 

Dia 24 de dezembro amanheceu chuvoso e nublado. Os dois veículos estavam embrulhados e estacionados aos pés da árvore. Rasgamos os papéis e os veículos saíram em alta velocidade. Chovia lá fora, mas na avenida imaginária por onde os ônibus circulariam predominava o clima que nós desejássemos. Perto da porta da cozinha era o ponto final. Não havia terminal rodoviário. Eles percorriam o longo corredor até o último quarto e voltavam. Nessa estrada não havia acidentes, imprudência no trânsito e os atraso nas viagens. Eu e meu irmão brincávamos por horas a fio com os veículos novinhos, literalmente, cheirando a tinta.

Assim como nos coletivos de verdade, os nossos ônibus prestavam serviço por todo o País. Eram empurrados sempre pelo mesmo carpete: o corredor da minha antiga casa. E como criança é especialista em imitar ronco de motores, conosco não era diferente. O ruído que vinha do peito infantil e escapava pela boca pequena narrava a arrancada, o aumento de velocidade e a estabilidade na estrada aos 80 km/h. Variava do grave ao agudo, no momento da frenagem. E nessa caravana da imaginação os ônibus passaram pelo Piauí, Pernambuco, Santa Catarina e rodaram muito em São Paulo.

A viajem, às vezes, era interrompida por minha pequena irmã, na época com 2 anos, que tinha recebido uma boneca de Natal. O problema é que ela também queria um ônibus. Não para empurrar, mas para andar sentada em cima. E por causa disso teve muita confusão. 

Virei fã dos ônibus de turismo naquela época e, num certo dia, meu pai nos levou ao Terminal Rodoviário do Tietê para conhecer os possantes movidos a diesel. Descobrimos que nossos ônibus existiam de verdade. Aquilo fortaleceu a minha imaginação e deu credibilidade à brincadeira que seguiu por anos e anos. 

E no Natal de 1986 o dia seguiu nublado. Papai Noel não entrou pela janela da minha casa. Nem deixou os ônibus dentro de meias. Mas tive a certeza que o espírito dele estava presente. Como ainda está, em todos os natais, ao redor da minha família, na nossa árvore piscante, no presépio e em cada um de nós que acreditamos no espírito de Natal. Papai Noel existe, com certeza. 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Cheiros e lembranças

Em nossa rotina chispada, às vezes, ficamos paralisados por alguns segundos quando aquele cheiro familiar e prazeroso nos invade, do nada. No golpe do vento. Pode ser na rua, na estação, na multidão ou a um quarteirão de casa. 

Aquele cheiro que nos traz ótimas lembranças. Capaz de nos abduzir para outras épocas. Quem nunca? Sempre fui ligado a odores. Desde criança. Alguns ruins outros bons. E até hoje, aos 36 anos de idade, vivo me encontrando com os cheiros que seguem vivos na minha memória. 


Arroz queimado com alho: [Sítio do Pica Pau Amarelo]
Eu ainda não estava na escola. Tinha uns 5 ou 6 anos e meu irmão era mais novo. Ele tinha 3. De segunda a sexta, por volta das 17h eu ficava na sala assistindo TV. O espaço era grande, uma sala enorme, que fazia fronteira com a cozinha, com mesa, cadeiras, armários e fogão vermelhos. De segunda a sexta minha mãe começava a preparar o jantar no final da tarde. Meu pai trabalha em uma fábrica, em 3 horários. Às 5 e pouco da tarde o alho queimava com o arroz ou com o feijão. O alimento cru, em contato com a panela e o alho quente fazia um barulhão. A chamada calefação. O delicioso aroma do pré-jantar invadia a sala bem na hora da abertura do Sítio do Pica Pau Amarelo. 


Creme dental vermelho: [Primeira série]
Estudei no período da manhã nos meus 5 primeiros anos letivos. Não fiz pré-escola e entrei direto na primeira. Entrava às 8h. A escola era perto da minha casa: menos de 10 minutos de caminhada. Acordava bem adiantado, mas enrolava demais e perdia no tempo. No final, estava quase atrasado, sempre. Levava cerca de 10 minutos para colocar um par de meias. Minha mãe fazia ameaças e previa que quando eu entrasse no exército a meia teria de ser enfiada no pé a seco, em 2 segundos. Antes de sair eu passava no banheiro. Deixava para escovar os dentes do final de tudo, antes de entrar no quintal que dava acesso à rua. Aquele aroma do creme dental ia caminhando comigo até a sala 8 da Escola Estadual Antônio Marques Figueira, em 1984.


Borracha branca [exercícios de matemática]
Sempre estou a dizer: matemática nunca entrou na minha cabeça. Vejo a área de exatas como algo pontudo, sem encaixe. E por conta da dificuldade, é óbvio que sofri nas aulas de matemática. Fui um dos alunos que mais gastei borrachas brancas. A folha ficava quente de tanta esfregação e aquele exercício dificilmente era resolvido. Da tabuada à álgebra. Mas eu gostava só das borrachas brancas. Nada daquelas que prometiam apagar tinha de caneta esferográfica, nem as verdes e muito menos aquelas com aroma de tutti-frutti. A velha e companheira borracha branca foi minha companheira nas árduas tarefas de matemática. 

Sabonete verde [Changeman e Jaspion]
Changeman e Jaspion dominaram as tardes na televisão no começo da década de 90. Eu não perdia um capítulo daquela guerra entre heróis de armadura e monstros vindos do espaço. Tinha por volta de 13 anos e, nos meses de férias, aguardava o dia inteiro para acompanhar o seriado que começava às 17h. Minha mãe, no entanto, fazia uma exigência, apenas. Eu e meus irmãos teríamos que tomar banho antes do programa começar. Porque se fôssemos deixar para depois, a coisa embolava. Depois da higiene, o trio sentava na sala (exalando o cheiro do sabonete verde) para companhar as lutas. Os finais eram sempre os mesmos. Os monstros eram derrotados. 


Perfume feminino [primeiro emprego]
Em novembro de 1993 eu entrei no mercado de trabalho. Balconista em uma papelaria. Tinha acabado de passar pelos 15 anos e era o único balconista do sexo masculino no estabelecimento. Trabalhava com outras 8 mulheres, com idade entre 18 e 20 anos. Elas falavam bastante, imagina? Entre as garotas do grupo, tinha uma que usava um perfume doce que chamava a atenção. E todos os dias aquele aroma tomava conta do ambiente de trabalho. Não era um cheiro ruim, porém, marcante. Um dia perguntei a ela. Que perfume é esse? E ela respondeu enquanto empacotava mercadorias. Nunca mais esqueci desse nome. 


Cheiro de chiclete de menta [NDO]
Quem é de Suzano ou região e tem mais de 30 anos de idade já deve ter pisado, pelo menos uma vez, na danceteria suzanense NDO. Point que dominou os anos 90. Paredes de espelho, fumaça artificial e uma turma de jovens dançando os "passinhos da época". Calça jeans, camiseta da HD e sapato Cannon. Eu estava lá quase todos os domingos, com minha gangue. E, antes de entrar, é claro, a passada estratégica na padaria para adquirir o "kit domingueira"[naquela época ainda não era usado o termo "balada"]. Uma das minhas peças do kit era a goma de mascar de menta. O pacote com 6 barrinhas durava poucas horas, mas não me importava Ainda mais quando o objetivo dentro do baile era atingido.


Pipoca, amendoim e queijo [Jornalismo Braz Cubas]
Ou eu comia no intervalo ou guardava a grana para tomar o ônibus. Durante um bom tempo essa era a minha realidade na vida acadêmica. E quando eu optava por me alimentar quase sempre encostava no carrinho de pipocas de um senhor de cabelos brancos. Ele ficava no alto da rampa do antigo campus II. Pipoca, amendoim e queijo ou pipoca, castanhas e queijo. O aroma da fritura invadia o prédio e chegava até a porta da sala 7, onde estudei os primeiros semestres e tive certeza da profissão a seguir. E o cheiro da pipoca sempre me acompanhou. Não sei se este senhor ainda comercializa pipocas na universidade. Mas, se eu cruzar com ele, com certeza terei de encostar no seu carrinho. 

Graxa [Senai]
Nunca fui bom em cálculos. Mas, quase fiz parte de uma turma do Senai de Suzano, nos anos 90. Não era a minha vocação. Hoje eu tenho consciência disso. Mas, passei na prova e fui até a segunda-fase. Ia ser mecânico e fiquei fascinado quando conheci as oficinas. O cheiro de graxa nunca me saiu da mente. E se eu tivesse passado, seria mecânico? Será? Mais uma vez os cálculos me derrubaram e hoje eu os agradeço. A aritmética bondosa me empurrou de volta aos trilhos da comunicação e, de lá, até hoje, não mais descarrilei.