A notícia se espalhou rapidamente pelo país. Isso porque em menos de um ano aquele era o segundo acidente envolvendo um avião da TAM. Em outubro de 1996, um Fokker 100 caiu no bairro Jabaquara, minutos após a decolagem: 99 morreram. Estive no local, na época. Estava há poucos meses na faculdade de jornalismo. Aproveitei a ida à capital para participar de um curso e, na volta, estiquei até a Zona Sul. Havia passado quatro dias do acidente. Jamais esquecerei o cenário de destruição na Rua Luis Orsini de Castro. Fiquei um tempo olhando a movimentação dos repórteres que ainda faziam plantão no local e tive mais certeza que era aquela a profissão que queria seguir.
Com a certeza no peito, no dia 9 de julho, do mesmo modo fiquei ouriçado para chegar ao local da queda do passageiro em Suzano. Eu nem tinha máquina fotográfica, mas o simples fato de ver de perto aquela ocorrência já me deixava satisfeito. Fui até a casa da minha avó, encontrei meu tio e o convenci de irmos até os arredores do Distrito de Palmeiras para tentar descobrir algo. Naquele momento a imprensa já dava como certa a versão. Era um passageiro que caiu do avião após uma explosão. A aeronave prosseguiu em seu voo até Congonhas onde pousou com segurança. Ninguém mais se feriu. Meu tio topou de me levar lá pros lados de Palmeiras, onde a imprensa dizia que o homem caiu.
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Explosão abriu um buraco na fuselagem do avião. Foto: Google Imagens |
Fomos até Palmeiras, rodamos por uma estrada de terra e o tal sítio onde o corpo foi achado ficava cada vez mais longe. Resultado: não encontramos nada. Na volta cruzamos com um carro de reportagem do SBT. Até pensei em segui-lo, mas meu tio achou melhor irmos embora.
Mais tarde os telejornais só falavam desse assunto. Me lembro perfeitamente que, por volta das 15h, um helicóptero branco e robusto, daqueles que têm até trem de pouso, desceu no terreno onde hoje está instalado um hipermercado e o shopping de Suzano. Desembarcou um dos diretores da TAM. De carro ele seguiu até o local do acidente.
Eu, que era leitor assíduo dos jornais da região e da capital, não via hora de chegar o dia seguinte para pegar os periódicos. O primeiro foi o Diário de Suzano. Me lembro da capa até hoje. Porém, um nome me chamou a atenção: Carlos Magno. Era o fotógrafo que fez as fotos do passageiro morto. Logo depois fiquei sabendo que ele foi o único fotógrafo do país a registrar a cena do acidente. As fotos dele rodaram o mundo e ilustraram as capa de quase todos os jornais e revistas do Brasil. Em poucos minutos virei fã do profissional.
Eu conhecia os profissionais da imprensa regional somente por meio de créditos. São os nomes no cantinho das fotos e no topo das matérias. E pensava: Será que um dia me tornarei como eles. O sonho era ter o meu nome creditado em uma matéria. "Quem sabe um dia", pensava eu. Aliás, sonho de qualquer estudante amante do jornalismo.
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Carlos Magno e o registro de sua história no livro Memórias de Suzano. |
Desde então em todos os feriados estaduais em que se comemora a Revolução Constitucionalista de 32 a história do passageiro ejetado do avião me vem a cabeça. Às vezes me pego olhando para o céu em sincronia com o ruído agudo de um jato qualquer. E sempre vou acompanhando o movimento da aeronave até ela desaparecer do meu campo de visão. E quase sempre durante essas observações a tal história me vem à cabeça. "Como ele [passageiro] foi cair justo em Suzano".
Grande Douglas Pires... neste dia eu estava de plantão no fechamento do DS, era apenas um estagiário de fotografia com responsabilidade de gente grande... foi quem revelou o filme do Magno, lembro que fiquei fascinado pelo excelente trabalho, mas ainda não tinha a noção da grandeza da pauta que ele acabava de cobrir...certamente um dia de muito trabalho, e para finalizar, não vou deixar de lembrar, quem escreveu essa matéria brilhantemente foi o grande Nivaldo Lima.... abraços meu querido.!
ResponderExcluirTexto sensacional! Por mais que o dia a dia às vezes não tenha tanta emoção, é a adrenalina do factual que faz a gente lembrar porque escolheu esse profissão. Parabéns Douglas!
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