quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Minha primeira vez na televisão

Desci do ônibus e logo entrei em uma fila com outras 30 crianças. Era noite, por volta das 19h. Ficamos na calçada e logo apareceu uma mulher de voz alta. Ela usava um crachá escrito produção. Rapidamente a moça organizou a fila e ordenou que todos entrassem, em silêncio, sem mexer em nada. 
Eu tinha 10 anos de idade. O ano era 1987. Estava chegando à sede do SBT, que na ocasião ainda era chamado de TVS. A excursão da 4ª série de um colégio estadual de Suzano chegava à emissora para participar do programa Oradukapeta, apresentado por Sérgio Malandro. Foi a primeira vez que entrei em uma emissora de televisão.

Lembro como se fosse hoje. Assim que fomos recepcionados pela mulher de voz alta e estridente seguimos em fila indiana pelo corredor da emissora. Minha vontade, assim que saí de Suzano, era participar do programa, principalmente de um quadro onde as crianças entravam em uma série de cobranças de pênaltis e o goleiro era o apresentador: Sérgio Malandro. O quadro "A porta dos desesperados" ainda não era tão famoso.


Mas, meu objetivo mudou assim que comecei a dar os primeiros passos naquele ambiente mágico. A fila andava, em silêncio, como havia ordenado a mulher da produção. E eu, é claro, observava tudo. Eu vi cabos, câmeras e muita gente apressada. No entanto, o que mais me chamou a atenção foram os cenários de outros programas. Eram roletas usadas pelo palhaço Bozo para sortear prêmios. Fiquei hipnotizado. E pensei. "Estou dentro da televisão". 

Logo depois vi o estúdio do Bozo. A fila andava e eu olhei para uma porta aberta à esquerda. Tinha uma mulher varrendo o chão do lugar onde o programa era feito. E eu reconheci o lugar. Não queria ver o Bozo, queria entrar no estúdio. 

De repente o andor pára. A mulher da produção volta a advertir os mirins que àquela altura já tinham desobedecido a ordem e falavam mais que papagaios. Ela apontou uma porta larga e disse. "Aqui dentro está acontecendo, agora, ao vivo, um telejornal. Portanto, vocês precisam ficar quietos. Quem desobedecer não vai brincar com o Sérgio Malandro".  Naquela época o SBT exibia, no começo da noite, um telejornal. Era o extinto Cidade 4, apresentado por Bóris Casoy. 


Nessa idade, aos 10 anos, eu cursava a quarta-série na Escola Estadual Antonio Maques Figueira, em Suzano. Era uma criança obediente. Não dava trabalho aos professores. O único ponto negativo era a matemática. Nunca entrou na minha cabeça.

Gostava de ler e assistir televisão. Não tinha video cassete e nem TV por assinatura. Estudava pela manhã, fazia o dever de casa e pronto. Assistia desenhos, programas infantis e à noite, às vezes, acabava acompanhando o jornal Cidade 4, no SBT. 

Por isso, quando a mulher de voz alta ordenou que mantivéssemos o silêncio eu quase pedi para entrar e ver o jornal, ao vivo. Abria mão de Sérgio Malandro e cobranças de pênaltis, fácil. Mas fiquei quieto. Fiquei imaginando que ali havia um homem (Bóris Casoy, que eu nem conhecia direito) falando aquelas notícias que eu sempre via na sala da minha casa. 

Fiquei com aquilo na cabeça. A fila andou e chegamos ao estúdio do Oradukapeta. Gravamos uns três programas. Não fui chamado para bater pênaltis, mas me diverti mesmo assim. Os garotos mais "riquinhos" diziam "Quando for passar na TV vou pedir para minha mãe gravar no videocassete". Fiquei curisoso, quis saber como dava para fazer aquilo. Em casa, meu pai me explicou. Mas, nós não tínhamos esse aparelho, ainda. 

Mas nem dei importância para isso pois a sensação de saber que eu tinha entrado em uma emissora de televisão mexeu demais comigo. Era como se tivesse atravessado um portal mágico. E mais: nem liguei tanto para a gravação do programa, a fagulha da minha empolgação foi a visita a emissora. Aos 10 anos tive a oportunidade de observar a rotina de quem trabalha na televisão. E saber que estive a poucos metros do telejornal que eu via na TV.

Chegamos em Suzano já de madrugada. Meus pais foram me buscar e, desde estão, eu não parei de falar um só minuto. Reportei tudo o que tinha acontecido. Sensação que jamais saiu da minha memória. Talvez esse episódio tenha sido a primeira influência para que, futuramente, eu me tornasse um jornalista.





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