Lembro como se fosse hoje. Assim que fomos recepcionados pela mulher de voz alta e estridente seguimos em fila indiana pelo corredor da emissora. Minha vontade, assim que saí de Suzano, era participar do programa, principalmente de um quadro onde as crianças entravam em uma série de cobranças de pênaltis e o goleiro era o apresentador: Sérgio Malandro. O quadro "A porta dos desesperados" ainda não era tão famoso.
Logo depois vi o estúdio do Bozo. A fila andava e eu olhei para uma porta aberta à esquerda. Tinha uma mulher varrendo o chão do lugar onde o programa era feito. E eu reconheci o lugar. Não queria ver o Bozo, queria entrar no estúdio.
De repente o andor pára. A mulher da produção volta a advertir os mirins que àquela altura já tinham desobedecido a ordem e falavam mais que papagaios. Ela apontou uma porta larga e disse. "Aqui dentro está acontecendo, agora, ao vivo, um telejornal. Portanto, vocês precisam ficar quietos. Quem desobedecer não vai brincar com o Sérgio Malandro". Naquela época o SBT exibia, no começo da noite, um telejornal. Era o extinto Cidade 4, apresentado por Bóris Casoy.
Gostava de ler e assistir televisão. Não tinha video cassete e nem TV por assinatura. Estudava pela manhã, fazia o dever de casa e pronto. Assistia desenhos, programas infantis e à noite, às vezes, acabava acompanhando o jornal Cidade 4, no SBT.
Por isso, quando a mulher de voz alta ordenou que mantivéssemos o silêncio eu quase pedi para entrar e ver o jornal, ao vivo. Abria mão de Sérgio Malandro e cobranças de pênaltis, fácil. Mas fiquei quieto. Fiquei imaginando que ali havia um homem (Bóris Casoy, que eu nem conhecia direito) falando aquelas notícias que eu sempre via na sala da minha casa.
Mas nem dei importância para isso pois a sensação de saber que eu tinha entrado em uma emissora de televisão mexeu demais comigo. Era como se tivesse atravessado um portal mágico. E mais: nem liguei tanto para a gravação do programa, a fagulha da minha empolgação foi a visita a emissora. Aos 10 anos tive a oportunidade de observar a rotina de quem trabalha na televisão. E saber que estive a poucos metros do telejornal que eu via na TV.
Chegamos em Suzano já de madrugada. Meus pais foram me buscar e, desde estão, eu não parei de falar um só minuto. Reportei tudo o que tinha acontecido. Sensação que jamais saiu da minha memória. Talvez esse episódio tenha sido a primeira influência para que, futuramente, eu me tornasse um jornalista.
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