Às
6h15 o celular despertou. Uma melodia simples, para não assustar os
demais que dormiam sem horário para acordar. Com a mão esquerda
saquei o aparelho que repousava sobre o criado e deslizei o polegar
na tela touch screen em direção ao botão soneca. Tinha garantido
mais 15 minutos de sono. Ilusão boba, afinal, são 15 minutos que se
desenrolam como 15 segundos.
Às
6h40 despertei, sem susto. Eram 10 minutos a mais dos que foram previstos. Fixei os olhos no display do telefone e notei que o serviço
soneca não havia funcionado. Estranho. Isso nunca aconteceu. Abandonei o travesseiro e mesmo sem enxergar lá fora percebi que
garoava fino. Desembarquei da cama e caminhei em direção ao
banheiro. Um banho e o retorno ao quarto às 7h.
Devidamente
vestido, dentes escovados e com uma dose de perfume aplicada estrategicamente sobre a pele, chego à cozinha. Leite, chocolate
instantâneo e bolachas. A primeira refeição foi feita em pé.
Mastigando e olhando para o nada. Engolindo e olhando para o mesmo
nada. Azulejo era o nada. Mais uma passada no banheiro e às 7h20
embarquei. Primeira marcha engatada, rádio ligado no noticiário,
duas mãos no volante e fui adiante. Destino: Mogi das Cruzes. Sábado de plantão.
Não
era para ser assim, mas o trânsito estava pesado. Segui quase sempre
na pista da esquerda, sem chegar aos 60 km/h. Sinal vermelho. Longas
filas. O sinal abre e os carros demoram para sair. Fui controlando na
embreagem e quase na minha vez de cruzar o semáforo surge a amarela
que rapidinho dá lugar à vermelha. Parei injuriado, mas 30 segundos
depois, fui, aliviado. Pouco mais adiante surge um engarrafamento, às
7h35.
Não
imaginei o que pudesse ser. Andava, parava. Estava em Brás Cubas,
pouco depois da 'subida da Coca”. Foi enroscado assim mais uns 500
metros até que notei luzes, bombeiros e Samu. Era um acidente. A
primeira cena que vi: um carro tombado na calçada e dois bastante
danificados. Na versão da polícia um carro desgovernado bateu em
cheio em um veículo que chegou a ser projetado para a pista
contrária. O carro parou quando atingiu um terceiro automóvel.
Penso
que os ocupantes do segundo carro tenham sofrido o susto maior. O
veículo recebeu um violento impacto por trás. A mulher que dirigia
foi lançada para fora. No banco do passageiro o marido. Testemunhas
disseram que ele gritava de desespero. A pista foi bloqueada. Choveu
Samu, bombeiros, PMS e curiosos. Por sorte, ninguém se feriu com
gravidade. Fotografei, peguei algumas informações e deixei o local.
Penso
que este segundo carro poderia ter sido o meu. É o meu caminho.
Fiquei pensando nisso durante o restante do trajeto até o meu local
de trabalho. Eu poderia ter sido surpreendido pelo veículo
desgovernado. Aliás, qualquer pessoa poderia estar naquela hora,
naquele lugar. Ainda comentei isso com uma testemunha lá no local.
Penso
que o dispositivo soneca do meu celular não falhou em vão. Ele me
atrasou em 10 minutos e pode ter me tirado da área do acidente. O
segundo carro poderia, sim, ser o meu. A vítima poderia ter sido eu.
Um pequeno atraso pode ser um grande aliado, levando em conta essa
minha tese. Não foi coincidência e nem defeito no celular. Em Deus
eu confio.
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