segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O soneca não falhou em vão

Às 6h15 o celular despertou. Uma melodia simples, para não assustar os demais que dormiam sem horário para acordar. Com a mão esquerda saquei o aparelho que repousava sobre o criado e deslizei o polegar na tela touch screen em direção ao botão soneca. Tinha garantido mais 15 minutos de sono. Ilusão boba, afinal, são 15 minutos que se desenrolam como 15 segundos.

Às 6h40 despertei, sem susto. Eram 10 minutos a mais dos que foram previstos. Fixei os olhos no display do telefone e notei que o serviço soneca não havia funcionado. Estranho. Isso nunca aconteceu. Abandonei o travesseiro e mesmo sem enxergar lá fora percebi que garoava fino. Desembarquei da cama e caminhei em direção ao banheiro. Um banho e o retorno ao quarto às 7h.

Devidamente vestido, dentes escovados e com uma dose de perfume aplicada estrategicamente sobre a pele, chego à cozinha. Leite, chocolate instantâneo e bolachas. A primeira refeição foi feita em pé. Mastigando e olhando para o nada. Engolindo e olhando para o mesmo nada. Azulejo era o nada. Mais uma passada no banheiro e às 7h20 embarquei. Primeira marcha engatada, rádio ligado no noticiário, duas mãos no volante e fui adiante. Destino: Mogi das Cruzes. Sábado de plantão.

Não era para ser assim, mas o trânsito estava pesado. Segui quase sempre na pista da esquerda, sem chegar aos 60 km/h. Sinal vermelho. Longas filas. O sinal abre e os carros demoram para sair. Fui controlando na embreagem e quase na minha vez de cruzar o semáforo surge a amarela que rapidinho dá lugar à vermelha. Parei injuriado, mas 30 segundos depois, fui, aliviado. Pouco mais adiante surge um engarrafamento, às 7h35.

Não imaginei o que pudesse ser. Andava, parava. Estava em Brás Cubas, pouco depois da 'subida da Coca”. Foi enroscado assim mais uns 500 metros até que notei luzes, bombeiros e Samu. Era um acidente. A primeira cena que vi: um carro tombado na calçada e dois bastante danificados. Na versão da polícia um carro desgovernado bateu em cheio em um veículo que chegou a ser projetado para a pista contrária. O carro parou quando atingiu um terceiro automóvel.

Penso que os ocupantes do segundo carro tenham sofrido o susto maior. O veículo recebeu um violento impacto por trás. A mulher que dirigia foi lançada para fora. No banco do passageiro o marido. Testemunhas disseram que ele gritava de desespero. A pista foi bloqueada. Choveu Samu, bombeiros, PMS e curiosos. Por sorte, ninguém se feriu com gravidade. Fotografei, peguei algumas informações e deixei o local.



Penso que este segundo carro poderia ter sido o meu. É o meu caminho. Fiquei pensando nisso durante o restante do trajeto até o meu local de trabalho. Eu poderia ter sido surpreendido pelo veículo desgovernado. Aliás, qualquer pessoa poderia estar naquela hora, naquele lugar. Ainda comentei isso com uma testemunha lá no local.

Penso que o dispositivo soneca do meu celular não falhou em vão. Ele me atrasou em 10 minutos e pode ter me tirado da área do acidente. O segundo carro poderia, sim, ser o meu. A vítima poderia ter sido eu. Um pequeno atraso pode ser um grande aliado, levando em conta essa minha tese. Não foi coincidência e nem defeito no celular. Em Deus eu confio.


Nenhum comentário:

Postar um comentário